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OS DESAFIOS GLOBAIS E O PAPEL DO BRASIL
Paulo Guedes
Parece uma desordem, porque vocês veem grandes ondas de migração, o grande tema eleitoral nos Estados Unidos, por exemplo, como é que nós vamos fazer com os imigrantes? Vamos construir um muro ali para os mexicanos não entrarem nos Estados Unidos? Isso é o Trump falando, por exemplo. Aí vocês veem, norte da África, todo mundo pegando barcos e tentando migrar para o sul da França, para o sul da Grécia, para o sul da Espanha, Itália, você tem outra onda migratória grande, vocês viram, duas semanas atrás, os ingleses, que sempre foram os mais sofisticados da civilização anglo-saxã, cercando um hotel e ameaçando incendiar um hotel no Reino Unido. Ao mesmo tempo, você tem a guerra da Ucrânia, você tem o Hezbollah e o Hamas com Israel, você tem o Maduro aqui, falando sobre o avanço do petróleo da Guiana, e parece que o mundo enlouqueceu e que vai ter uma guerra mundial em mais três ou quatro meses.
É uma percepção geral. Eu quero colocar um pano de fundo para vocês entenderem que são como um mosaico, tudo isso se encaixa num pano de fundo bem mais amplo. Eu esperaria que, ao final da nossa conversa, vocês encaixassem, conseguissem encaixar e tivesse um clique, uma percepção geral do que está acontecendo.
Eu considero isso realmente importante porque, no final, vocês vão ver que o Brasil pode navegar através dessa crise ou pode continuar como Atlântida, um continente perdido, que foi o que aconteceu com o Brasil, com a Argentina, mas não vai acontecer isso, não. E eu estou falando como analista, não estou falando como um ministro, eu não estou falando como um eleitor, eu estou falando como um analista. Eu quero que todos compreendam o que está acontecendo e uma reação conservadora no Ocidente, onde a direita ganhou na Hungria, ganhou na Polônia, ganhou na República Tcheca, ganhou na Eslováquia, ganhou na Croácia, ganhou em Portugal, ganhou na Nova Zelândia, ganhou na França, ao contrário do que se diz no Brasil, no Brasil se diz, não, a esquerda ganhou na França, não, quem sabe, somar, sabe que eram 80 congressistas e depois da eleição tinha 140, é quase 50% de aumento, então a direita avançou.
Ah, mas não avançou tanto quanto avançou no parlamento europeu, claro, porque o francês quando vota num representante no parlamento europeu, ele vota na direita, ele vota em alguém que vai defender a França lá, os conservadores, contra os imigrantes e etc. Só que quando ele vota dentro da França, ele gosta de se aposentar aos 18 anos, ele quer o 18º salário, ele quer as coisas que o estado da previdência social pode fornecer, mas a verdade é que a direita está subindo no mundo inteiro, é uma reação conservadora e eu queria que vocês entendessem isso, porque se não fica parecendo, se de repente aparece um milê e ganha a eleição, todo mundo, poxa, o professor Cabeludo ganhou a sua eleição, aí um Bolsonaro ganha aqui, a culpa é do Bolsonaro, não, esquece, você não consegue reprimir um fenômeno que tem 60, 70 bilhões de eleitores, está acontecendo um fenômeno, ou você entende o fenômeno ou você vai ficar numa guerra permanente, o Brasil vai entrar numa guerra civil, porque não estão entendendo o que está acontecendo, nós temos que focar nos problemas, os problemas, por exemplo, foram analisados aqui quando um caiado fala o seguinte, ó, a segurança, qual é o maior bem que um ser humano tem? A própria vida, está todo mundo seguro quanto a vida no Brasil? Quantos são os assassinatos por ano? Por que que o Bukele ganhou em El Salvador? Por que que acabou direita e esquerda em El Salvador? Acabou tudo, tirou os bandidos de toda a rua, prendeu todo mundo, acabou, negócio de direita e esquerda, quem está em crise não é a economia de mercado, não é o capitalismo, quem está em crise é a democracia ocidental, é importante entender isso, a classe política tem que entender isso. Então eu vou tentar colocar um pano de fundo pra vocês, pra vocês encaixarem isso, por que que está essa confusão política, e se fosse só no Brasil, você fala, bom, a confusão política no Brasil, não, vocês estão vendo na França, vocês estão vendo nos Estados Unidos, vocês estão vendo na Itália, o que que o Bukele tem em comum com a Meloni, a Meloni está contra a migração e está a favor de lei e ordem, é uma reação conservadora, contra a criminalidade, contra o descaso, contra a imigração em massa, o que que o Trump diz, vou tirar os imigrantes ilegais, então eu quero que vocês entendam esse fenômeno, e é relativamente simples de entender, nós estamos no episódio final de um longo ciclo de crescimento que começou no pós-guerra, e eu vou chamar por falta de um nome mais complexo, até por simplicidade, eu vou chamar da Paz Americana, Pax Americana, foi simplesmente o seguinte, pela primeira vez na história da humanidade, teve uma guerra mundial, quando acabou, em vez de ser uma guerra de escolha, em vez de condenar reparações, porque tinha dado errado, na primeira guerra mundial, quando acabou, botaram as reparações sobre os alemães, eles preferiram fazer uma segunda guerra do que ter que pagar as reparações, quem disse isso inclusive foi um economista famoso, foi o Keynes, que previu uma continuação dos problemas globais, exatamente porque não houve essa percepção, e vocês vão ver que guerra da Ucrânia, Hamas, Hezbollah, são episódios dentro dessa grande configuração, então vamos ver essa grande configuração, é relativamente simples de entender, acabou a segunda guerra mundial, os americanos lançam o plano Marshall e reconstroem os aliados, França, Inglaterra, são reconstruídos, rapidamente, com 100 bilhões de dólares, ao longo de 10 anos, quem é o maior inimigo dos americanos naquela época? Alemanha, foi derrotada a Alemanha de Hitler, 10 anos depois, 15 anos depois, e quem fez isso foram os liberal-democratas, o caminho da prosperidade, que é uma expressão que eu gosto de usar, um grande liberal alemão, Ludwig Erhard, ele liberalizou, nós falamos em lei de liberdade econômica, em abertura de economia, em facilitar investimentos internacionais, isso foi o que o Erhard fez com a Alemanha imediatamente no pós-guerra, e a Alemanha de país destruído, aniquilado, virou a segunda maior potência econômica do mundo, rapidamente.
Logo depois, eles reconstruíram o Japão, também foram os liberal-democratas, o Japão virou a terceira economia mais forte do mundo, 15, 17, 18 anos depois, ou seja, foi uma história de inclusão econômica no capitalismo global, foi a globalização, as economias de mercado começaram a engolir o mundo inteiro, e o mundo inteiro começou a sair da miséria, 4 bilhões de eurasianos saíram da miséria, as vítimas do socialismo como doutrina econômica, a China de Mao Tsé-Tung era miserável, faminta, pobre, ignorante. Os americanos, depois de reconstruírem o Ocidente, estendem a mão para a China, tornam a China nação mais favorecida, e ela começa a penetrar nos mercados americanos primeiro. 700 milhões de chineses saem do interior da China, onde eles acordavam, caminhavam no campo de arroz com o pé úmido, comiam o arroz e iam dormir de novo, no escuro.
700 milhões de chineses saem do interior da China, vão para a costa, as zonas de exportação, o Espírito Santo tem agora duas aqui, o lugar certo para fazer é na costa, não é na selva, está longe da mão de obra, está longe de tudo. Na selva você tem que fazer o contrário, na selva você tem que fazer a capital da bioeconomia, não é a industrialização, nós não vamos sujar o Amazonas como sujamos de poluição o Brasil inteiro, aliás, eu não posso dizer isso, o Brasil é um dos menores poluidores do mundo, 1,7% do fluxo anual de poluição, a China 30%, os americanos 26%, os europeus 25% e o Brasil 1,7% sendo atacado no mundo inteiro como grande poluidor. Por quê? Por desinformação nossa mesmo, nós brasileiros indo lá fora falar mal do Brasil.
Então os chineses descem e se integram, um bilhão e meio de chineses saem da miséria, um bilhão e meio de indianos, que também eram países de orientação socialista saem da miséria, República Tcheca, Polônia, Hungria, todo mundo saindo da miséria, todo mundo subindo e o Ocidente sob tensão crescente dessa competição. Enquanto isso, eu não vou falar no início de Brasil ou Argentina, eu vou falar no final do nosso futuro. Por enquanto eu vou dizer só que se tornou um continente perdido, vocês ouviram falar da Atlântida, aquele continente que afundou e nunca mais foi visto, isso era a América do Sul nos últimos 30, 40, 50, 60 anos.
Se você pegar qualquer livro de introdução à macroeconomia, pega lá Gregory Menckel, introdução à macroeconomia, pega a edição do ano 2000, os últimos 100 anos, quais os países que mais cresceram no mundo? Primeiro lugar, Brasil, de 1900 até 2000 a maior economia do mundo, maior colônia de imigrantes japoneses, segunda maior colônia de imigrantes italianos, terceira maior colônia de imigrantes alemães, mais libanês no Brasil do que no Líbano, se a gente invadir o Líbano a gente dobra a população. O Brasil trazia gente do mundo inteiro, crescia 7,3%, 7,2%, 7%, a recessão era 3,5% de crescimento. E todo imigrante que chegava, o Espírito Santo sabe disso, Florianópolis sabe disso, o Rei Grande do Sul sabe disso, todo imigrante que chegava já montava uma pequena indústria, já montava uma fábrica de café, já montava, já fazia sua fazenda, sua pequena fazenda, sua pequena propriedade.
Então, o Brasil quando não tinha Ministério de Planejamento crescia muito mais do que todo mundo que tinha Planejamento. Depois que criou o Ministério de Planejamento começou a ter hiperinflação, moratória externa, crescimento baixo, corrupção, estagnação econômica, tem algo errado no modelo econômico brasileiro. E não é no Brasil.
Brasil, Argentina, Bolívia, Equador, Venezuela, Atlântida, o continente perdido, afundando há cem anos. A Argentina teve o primeiro metrô das Américas, antes dos Estados Unidos, antes de Nova Iorque. A renda per capita da Argentina está caindo há cem anos.
O último é o socialismo bolivariano do século XXI, que conseguiu tornar o país miserável também em 25 anos. O penúltimo foi a Argentina, que botou 40% da população na miséria, também com os mesmos males, hiperinflação, estagnação, corrupção na política. Quer dizer, há um defeito fundamental na Atlântida, o continente perdido.
Enquanto isso, o outro lado do mundo fez exatamente o contrário. Todos esses países cresciam menos que o Brasil. As populações fugiam para o Brasil quando tinha guerra, quando tinha crise econômica.
E o que acontece hoje é o contrário. Agora, o que tiveram em comum? O Japão entrar numa piscina global? Ok, pequenininho. O Japão, cada vez que nasce um japonês, o outro cai dentro d'água.
O país é pequenininho, população pequena. Então, tudo bem, pode trazer o Japão para o mercado global. Piscina de criança, vem um japonesinho, entra, está tudo certo.
Aí a Coreia gosta, quer entrar na piscina também, pode vir, entra mais um. Aí vem o mamute, a China, um bilhão e meio, quer entrar na piscina. Aí o americano começa a prejudicar o negócio do lado de cá do mundo.
Então, os economistas chamam do teorema do Stopper-Summons, a equalização, o teorema de equalização dos preços, dos fatores de produção. A história do mundo, nos últimos 80, 90 anos, é de um sucesso extraordinário. Quem estiver olhando de outro planeta, nunca tanta gente saiu da miséria.
Só que isso pressionou o lado de cá do mundo. Quer dizer, um bilhão e meio de chineses entraram na piscina dos mercados globais. Então, esse papo de que o socialismo, o socialismo, socialismo como doutrina econômica, fome, miséria, caminho da pobreza.
Esse é o fato econômico. O resto é papo. As economias de mercado tiraram o mundo da miséria.
E estão fazendo isso há milênios. Primeiro eram os fenícios, desculpa, volta mais. Primeiro eram os sumérios, se você pegar o código de Hammurabi, tem lá dados básicos de propriedade privada, ovelhas, cabritos, camelos, quem tem tanto.
Se você pegar os libaneses, hoje, na época eram os fenícios, rodava aquele Oriente Médio todo, rodava aquele Mediterrâneo todo lá. Foi a primeira grande globalização. É uma história de inclusão, é um algoritmo de cooperação humana.
É incontornável, é irreversível. Da mesma forma que nós aprendemos a nos comunicar, caiu um raio um dia, alguém fez assim e todo mundo começou a chamar aquilo de raio e virou uma linguagem. Um dia, um chefe ofereceu uma pele de cabrito para o outro, o outro disse que não, pediu duas e aí eles fizeram a primeira troca voluntária.
Isso está acontecendo há milênios. O primeiro banco foi na Babilônia. Todos esses impérios subiram e desceram em cima de comércio, todos.
Atenas era cosmopolita, perdeu a guerra para a Esparta, que era militarista, o mundo retrocedeu. Então, a história da humanidade é uma história de progresso, ascensão, queda, o Império Romano, direito de consulta e dinário inglês. Nós fomos evoluindo para dois grandes algoritmos, democracia e mercado, democracia e mercado.
E aí você entende o que acontece agora, o que está acontecendo. Depois desse longo ciclo de globalização, foi a reconstrução do mundo no pós-guerra e praticamente engoliu o mundo inteiro nessa grande engrenagem. Você hoje traz um tênis Nike do Vietnã, trazia, porque isso vai acabar.
Vai ter uma grande reconfiguração das cadeias produtivas. Esse ciclo acabou, o mundo está entrando em uma outra fase super complexa. Houve uma festa, um baile funk, foi até duas, três da manhã, o mundo inteiro participou dessa festa por 60, 70, 80 anos.
E o Brasil estava na clínica de recuperação, junto com os irmãos argentinos, venezuelanos, está todo mundo na clínica de recuperação. Quando nós voltamos da clínica de recuperação, que é agora, são quatro horas da manhã, está todo mundo bêbado, começou um tiroteio no baile funk, a polícia chegou e está prendendo todo mundo. Essa é a situação atual do mundo, mas vocês vão conseguir encaixar cada peça, cada peça.
Por exemplo, o que é a guerra Rússia e Ucrânia? Quem foi o grande perdedor dessa grande ordem econômica global que se formou, que enriqueceu o mundo inteiro? A própria Rússia mergulhou, era uma viúva do socialismo, mergulhou, botou um imposto de renda de 15% e o Gérard Depardieu, milionário ator francês, foi morar na Rússia, se naturalizou a Rússia. Quer dizer, então a Rússia acaba com o papinho de socialismo como doutrina econômica. A Rússia mergulhou no capitalismo de Estado, a China mergulhou no capitalismo de Estado.
É um país inovador, é um país competitivo. Peguem o livro publicado por um prêmio Nobel de Economia, Ronald Coase, como a China se tornou capitalista. São duas Chinas, uma China implodindo devagar, símbolo Pequim, constrói uma cidade inteira, a cidade fica vazia, tem mato, cachorro andando de um lado para o outro, opção de empresa estatal dando prejuízo, setor bancário quebrado.
E tem a outra China, dinâmica, tecnológica, fazendo portos no mundo inteiro, infraestrutura de comunicação, rota da seda. Essa é a China que cresceu e o símbolo é Xangai, subiu. E o saldo era altamente positivo, baile funk, quatro horas da manhã, tiro para todo lado, a China está parando também, os investimentos estão caindo.
A China não é essa maravilha, você só não escuta o som, porque se reclamar muito o sujeito desaparece. Então, o que está em crise não é a economia de mercado. Foi o grande vencedor do último século, foi o capitalismo, que integrou o mundo inteiro e que tem um tênis Nike feito em Vietnã, que a química de materiais é desenhada na Alemanha, o design é feito na Itália, o couro vem do Brasil, só monta em Vietnã.
E para trazer aquilo para o Brasil são 30 centavos de dólar, 1 real de 50 centavos. Você já viu aquelas grandes transportadoras com aqueles super containers, parecem prédios de 15 edades, aquilo vem andando devagarzinho e aquilo traz por um custo pequenininho qualquer produto. Pois bem, esse mundo acabou, esse mundo acabou.
Dois jovens hoje com drones na Etiópia, quando esse super transportador está passando, eles soltam uma bomba a fundo da super transportadora, dão 3 bilhões de dólares de prejuízo, quebram a companhia de seguro em Londres. Esse é o mundo para onde nós estamos indo agora.
Fim
Fonte: video intitulado"Paulo Guedes Denuncia PLANO OCULTO da Esquerda que Está DESTRUINDO o Brasil | PAULO GUEDES ECONOMIA"
https://youtu.be/ULz7bugAUfo