(456)_MEIGUICE [Literatura Infantil] (por Adelina Lopes Vieira)


 



Meiguice 

Adelina Lopes Vieira


Deram à linda Clarisse

uma gatinha mimosa,

tão branca, tão carinhosa,

tão engraçada, tão mansa

que a encantadora criança

por nome lhe pôs — Meiguice.


Tinha bom leite ao almoço

e biscoitos e bolinhos;

dormia em sedas e armarinhos,

e ronronava fagueira

quando sentia a coleira

de fita azul, no pescoço.


Clarisse amava deveras

a bichinha cor de neve

e a gata, nervosa e leve,

adorava a pequenita;

e tinham graça infinita,

estas amigas sinceras!


Veio Raul, o mais louro

e traquinas dos rapazes,

forte e audaz entre os audazes,

fanfarrão e desordeiro;

correu a casa ligeiro

indo encontrar o tesouro,


a doce e branca Meiguice,

deitada comodamente

na cama fofinha e quente

da prima, e gritou: — Que vejo?

um bicho tão malfazejo,

sobre o leito de Clarisse!


E... zás, suspendeu a gata

pela coleira de fita,

atirou a pobrezita,

ao jardim e, satisfeito,

à priminha o heróico feito

foi contar como bravata.


Debatia-se Meiguice,

no lago, fria, transida,

a morrer.

O gaticida

sentiu remorso pungente

ao ver o pranto tremente

no olhar azul de Clarisse.


E... correndo, denodado, 

deitou-se ao lago profundo,

(dois palmos d'água); do fundo

tirou Meiguice, e ofegante

disse em tom dilacerante:

— Salvei-a!

— Estou perdoado?


Fonte: 

http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=81627