FUNÇÃO COM UNÇÃO
Exerça a sua função com zelo e dedicação, mas lembre-se que você não é o cargo que ocupa. Você está diretor, mas, um dia, não estará mais; aquela sala não é sua, é do gerente, que agora é você, mas, dentro de um tempo, não será mais. Mais unção e menos função! Viva, dedicadamente, aquilo que é colocado sob sua responsabilidade, mas não se apegue demais ao fazer, porque temos uma raiz mais profunda da nossa identidade que é o ser. E é preciso que sejamos aquilo que um dia seremos no Céu! Muito mais do que soldados, diretores, professores... seremos, simplesmente, filhos de Deus (Lc 3,10-18). Pe. Joãozinho, scj
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VOCÊ É... OU VOCÊ ESTÁ...?
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"Exerça a sua função com zelo e dedicação" - perfeita afirmação Pe. Joãozinho. Mas o "lembre-se que você não é o cargo que ocupa" - à primeira leitura parece correto; mas não é.
"Você está diretor, mas, um dia, não estará mais" - pode parecer correto dizer "você está diretor", mas, sim você é o diretor naquele momento histórico preciso. E como "diretor" é sua responsabilidade tomar as decisões que forem necessárias. Se você "só está diretor", você está fugindo das responsabilidades. Enquanto você é o diretor, você tem que assumir isso. Quando você não for mais o diretor, sua responsabilidade já não será a mesma. / Você não está professor; você é o professor. / Você não está padeiro; você é o padeiro. / Você não está mãe; você é a mãe... / E assim em todas as nossas funções em que estivermos: umas de curta duração, outras de longa duração, e outras para sempre.
O importante é se assumir no cargo - "eu sou" o diretor -, mas não se apegar ao cargo, pois poderá deixá-lo algum dia. Como está escrito: "nossa identidade que é o ser" - perfeito.
Por outro lado o "eu sou" é um eco da revelação, no Êxodo, de Deus a Moisés: EU SOU ("Javé") - Ex 3,14. Sim Deus é, essencialmente, tudo. E quando você "é o diretor, o professor, o padeiro, a mãe, etc", na verdade não é você que é... É DEUS QUE É! Deus é o diretor... Deus é o professor... Deus é o padeiro... Deus é a mãe... E, na medida em que cada um deixar Deus ser... melhor será como diretor, o professor, o padeiro, a mãe... Ao contrário, quanto mais você quiser ser tudo isso sozinho, sem Deus, mais a sua direção, o seu ensino, o seu pão, sua maternidade... não será a melhor.
E quanto mais você assume que "você é" e não que "você está", melhor. O que "você é" é porque Deus já é e pode continuar sendo através de você, e assim sua função será realizada com mais sucesso e feliz.
E a compreensão de que Deus escolheu ser ele mesmo "um diretor, um professor, um padeiro, uma mãe, etc" é porque... sem Deus eu não sou nada!
Já o "mas não se apegue demais ao fazer", deve ser corrigido para "não se apegue ao cargo"; pois o se apegar ao fazer deve significar fazer com responsabilidade, com zelo e dedicação. Afinal de contas é Deus quem está fazendo... através de você: você só faz porque está vivo; e só está vivo por Deus está lhe dando vida a cada segundo! Logo é Deus que trabalha; como sempre.
Quanto ao "seremos, simplesmente, filhos de Deus" é uma infeliz afirmação devido a palavra "simplesmente". Ora, filhos de Deus todos já somos: todos - a humanidade inteira - saímos, fomos extraídos, dEle e para Ele voltaremos: como filhos e filhas e com infintas funções que Deus queira ser. Uma multiplicidade bela e harmônica como, aliás, já são as Milícias angélicas e já é a Natureza: os humanos, a fauna, a flora e os locais onde vivem. Que tristeza se fossemos "somente filhos" como soldados de um batalhão: todos iguais. Seja algo exclusivo desde agora pois sua digital já é.
(Carlos Eduardo da Silva, teólogo - 12/12/2021)