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O EXPERIMENTO DO UNIVERSO 25
Como a humanidade pode chegar ao ponto do colapso social
Na década de 50, um homem chamado John Calhoun deu início a um dos experimentos mais controversos e perturbadores da história da humanidade. E eu digo isso porque o que ele tentou fazer, no fundo, foi simular o fim do mundo. E o que ele acabou descobrindo nesse processo foi uma verdade obscura sobre o ser humano.
A ideia parecia simples. Ele queria entender o que acontece com o comportamento de uma espécie quando ela cresce demais. Para isso, ele pegou pequenos grupos de camundongos, cercou dentro de uma pequena área e deixava eles se reproduzirem ali dentro.
Mas tinha um problema. Para chegar no ponto do colapso social que ele queria, ele precisava que a colônia de camundongos passasse dos 2 mil indivíduos. Só assim, segundo ele, seria possível ver o caos acontecer.
Mas por mais que ele tentasse e que os ratos até conseguissem se reproduzir rapidamente no começo, chegava num ponto que a população simplesmente travava. Não crescia mais. Os experimentos sempre estagnavam entre 150 e 220 ratos.
Nunca passava disso. E o que ele foi percebendo com o tempo é que o ambiente não estava completamente controlado. Ainda tinham variáveis naturais que regulavam o crescimento populacional.
Às vezes a temperatura baixa matava os bichos, muitas infecções, doenças, escassez momentânea, alguns predadores acidentais. Não importava. Sempre aparecia algum fator para impedir que a população explodisse.
Nada mais era do que a natureza interferindo e sempre encontrando um jeito de manter tudo em equilíbrio. Foi só depois de 24 experimentos fracassados que Calum finalmente encontrou a solução para o seu problema. Ele teve uma ideia radical.
Ele decidiu eliminar tudo isso. Eliminar qualquer tipo de dificuldade. A ideia era criar um ambiente totalmente estável, onde absolutamente todas as necessidades básicas fossem garantidas.
Comida, água, abrigo, temperatura, higiene. E melhor ainda, onde não existisse qualquer predador, ameaça, escassez ou qualquer coisa que impedissem eles de se reproduzirem e ultrapassarem os 2.000 camundongos. Foi assim que nasceu o Universo 25, um espaço projetado para ser a utopia dos ratos.
Uma arena de quase 3 metros quadrados dividida em 4 níveis interconectados com vários ninhos preparados para abrigar uma grande colônia de camundongos. A comida era reposta automaticamente, a água sempre fresca circulava em bebedouros limpos, o ambiente era higienizado com frequência para evitar doenças e infecções e o clima estava sempre mantido na faixa ideal de 22 graus. Nada podia ameaçá-los, nada faltava.
Era um mundo onde tudo já estava pronto, onde não era preciso conquistar mais nada. Estava feito, problema resolvido, agora era só viver e se reproduzir. E assim ele começa o seu 25º experimento, colocando 8 ratos, 4 casais saudáveis dentro desse paraíso artificial.
E aí? O que será que aconteceu? As respostas não apareceram todas de uma vez, elas foram aparecendo aos poucos e Calum resolveu dividir todo o processo em 4 fases. A primeira fase foi chamada de fase de estabilização. Nelos camundongos exploravam o espaço, reconheciam o território, encontravam seus lugares, não tinha disputa nem tensão.
Cada grupo se organizava ao redor dos recursos com certa harmonia. Aos poucos, os casais começaram a se reproduzir. A taxa de crescimento era constante e controlada.
Tudo parecia promissor. Por um tempo, aquilo realmente funcionava. A população estava crescendo de forma saudável e o experimento seguia seu curso, mas essa paz não duraria muito.
Veio então a segunda fase, a chamada fase de explosão. Com as condições perfeitas e sem qualquer obstáculo natural, a taxa de reprodução disparou. A população dobrava a cada 55 dias.
Os ratos não tinham muito com o que se preocupar, não tinham que buscar por alimento, água, abrigo ou fugir de predadores. Então eles simplesmente se reproduziam. E aí o espaço começou a ficar apertado.
Os corredores, que antes estavam sempre vazios, passaram a ficar lotados. Os ninhos começaram a ser disputados. E o contato excessivo entre os bichos começou a gerar muito estresse.
E assim a utopia foi pra sua terceira fase, a fase de estagnação. E sendo bem direto, é aqui que começa a dar merda mesmo. A população chega no seu auge, com mais ou menos 2.200 camundongos.
Missão cumprida pro cientista. Surgem os primeiros sinais de colapso comportamental. Os comportamentos naturais começam a se desfazer.
Os machos mais dominantes se tornam agressivos e imprevisíveis. Os mais fracos se isolaram, evitavam contato, evitavam disputa, evitavam tudo. As fêmeas, que antes eram todas cuidadosas com seus filhotes, passaram a rejeitá-los.
Algumas os abandonavam no meio do ninho. Outras simplesmente os matavam. O instinto materno, que antes era uma das bases comportamentais da espécie, começou a sumir.
E começaram a surgir comportamentos estranhos. Alguns ratos começaram a roer suas próprias caudas até sangrar. Outros atacavam companheiros sem nenhum motivo aparente.
O instinto sexual também saiu completamente do eixo. Machos tentavam acasalar com qualquer rato que passasse por perto. Fêmeas, machos, filhotes... não havia mais seleção.
E o que o cientista observou é que a ordem natural da espécie, com machos dominantes, fêmeas protegendo os filhotes e jovens aprendendo com os mais velhos, simplesmente desapareceu. E no meio desse caos todo, surgiu o grupo mais simbólico de todo o experimento. O grupo que Calum batizou como The Beautiful Ones.
Os Belos. Esses eram os ratos que tinham desistido da vida social. Não brigavam, não acasalavam, não se aproximavam dos outros.
Viviam isolados, passivos e imóveis. Passavam os dias comendo, dormindo, se limpando. E por isso estavam sempre belos, com o pelo sempre limpo e impecável.
O comportamento deles era marcado por repetições vazias, que não tinham nenhuma função evolutiva ou social. Eles viviam uma espécie de rotina mecânica e sem sentido. Calum dizia que eles eram belos por fora, mas completamente vazios por dentro.
Não aprendiam, não reagiam, era como se tivessem se desligado completamente dos instintos naturais que aquela espécie originalmente tinha. Suas preocupações eram outras. Preocupações jamais observadas antes em camundongos normais.
A presença deles marcava o início do fim. E finalmente chegamos na última fase. A fase da morte.
A taxa de natalidade despencou. Os filhotes começaram a morrer cada vez mais cedo. As mães, já sem qualquer vínculo instintivo, abandonavam e ignoravam suas crias.
E a nova geração, nascida nesse ambiente saturado e sem nenhum tipo de estrutura social, simplesmente não sabia mais viver. Não sabiam mais se aproximar dos outros, se acasalar nem se defender. Tinham nascido num mundo pronto demais.
Tão pronto que eles não tinham mais nenhum papel ali dentro. Nascem e quando olham ao redor, vêm camundongos inúteis, ratos desorientados, frios, ausentes. Não sabiam o que fazer.
Mesmo com todo o sistema de Calum ainda funcionando perfeitamente, comida, água, abrigos, a sociedade colapsou. O último nascimento registrado aconteceu no dia 600. Depois disso, o ciclo reprodutivo se encerrou.
Ninguém mais se aproximava. Ninguém mais se interessava. A colônia foi diminuindo, até desaparecer por completo por volta do dia 920, quando morreu o último rato.
E assim, se encerrou o Universo 25. Uma sociedade que não precisou de nada externo pra acabar. Bastou ter tudo.
Bastou não ter mais função, mais nenhum objetivo. E eles mesmos se destruíram. Como Calum mesmo disse, a morte chegou muito antes da extinção física.
A vida desapareceu antes que os corpos desaparecessem. E é bizarro, né? Literalmente o paraíso virando um inferno. E o que me chama ainda mais atenção nessa história toda é que entre os 25 experimentos, o único em que absolutamente todos os ratos morreram foi o último.
Justamente o mais perfeito de todos. Nos anteriores, enquanto a natureza ainda encontrava brechas pra intervir com doenças, escassez, instabilidade, o equilíbrio se mantinha. A natureza era o Deus dos ratos nos primeiros 24 experimentos.
Mas no 25º, Calum finalmente conseguiu silenciá-la. E por um instante, até ocupou o lugar de Deus dos ratos. O Todo-Poderoso que ofereceu o paraíso.
Que deu tudo que os ratos necessitavam. E deu no que deu. Basicamente, o que Calum percebeu é que ao eliminar a necessidade dos ratos de lutar, ele eliminou também a razão deles existirem.
O fato deles terem tudo, fez com que a energia que antes era usada pra sobrevivência ficasse sem direção. E ao longo das gerações, vimos essa energia se perder. Primeiro em aumento da agressividade, do estresse, depois violência, distúrbios, vícios, isolamento, tédio, apatia, até chegar num ponto em que o comportamento deles mudou completamente.
Eles não queriam mais se relacionar. Pararam de reproduzir. A forma de lidar com a vida se tornou tão artificial que os próprios ratos se tornaram a doença.
Não precisou de nenhum fator externo. Eles mesmos acabaram com a própria espécie. E aqui a gente logo fica se coçando pra traçar um paralelo com os seres humanos.
Afinal, é quase impossível não pensar. Será que a gente não tá indo por esse mesmo caminho? E a verdade é que se a gente quiser, consegue encontrar semelhanças com quase tudo desse experimento aí. Basta olhar pra nossa sociedade e perceber o aumento do ódio, da agressividade e, por que não, das guerras.
Vemos também mais autodestruição, ansiedade, depressão, vícios, isolamento. Temos também a diminuição da nossa taxa de natalidade, jovens que se relacionam cada vez menos, guerras ideológicas que afastam as pessoas. Podemos, inclusive, ver a nossa própria geração dos belos.
Aqueles tão preocupados com a própria aparência, com procedimentos, filtros no Instagram, mas que são completamente vazios por dentro. E por mais que a gente ache que isso é um problema de hoje, várias gerações ao longo da história também passaram por isso. Grandes impérios, grandes civilizações que alcançaram o topo e logo depois colapsaram.
Seja o Império Romano, a Babilônia, o Egito, o Império Azteca, os Otomanos, todos construíram seus paraísos e viraram ruínas. Parece até um ciclo que a humanidade está condenada a repetir. Luta, ascensão, conquista e, depois disso, excesso, vício, tédio e, finalmente, o colapso.
A glória vem seguida pela apatia, a abundância vem seguida pela desordem, a civilização cava seu próprio buraco e nasce uma nova das cinzas. Isso acontece de novo e de novo e de novo. A questão é até quando as consequências desse colapso não serão capazes de nos levar à extinção, ao fim do mundo.
O que fica evidente é que a inteligência humana é, ao mesmo tempo, um dom e uma maldição. Porque, ao mesmo tempo que ela nos permitiu vencer a luta pela sobrevivência e construir o nosso próprio paraíso, ela também nos deu a arrogância de achar que podemos brincar de ser Deus. E é justamente essa arrogância que hoje ameaça pôr a nossa própria existência em cheque.
Os ratos não têm essa inteligência, eles jamais conseguiriam criar uma utopia por conta própria. No universo 25, eles ganharam de presente esse mundo, um mundo onde o jogo da sobrevivência estava a ganho. E, no final, esse foi o maior castigo que eles poderiam ter recebido.
E é claro que não dá pra comparar seres humanos com ratos em tudo, mas não podemos esquecer que ainda somos seres vivos. E, como qualquer ser vivo, precisamos lutar por alguma coisa, precisamos de um porquê. Os ratos, assim como qualquer outro animal, são incapazes de encontrar um porquê além da sua própria sobrevivência.
Eles simplesmente não têm estrutura mental pra isso. Nós, seres humanos, até temos essa capacidade. Somos mais complexos, mais conscientes, mais criativos, mas, por incrível que pareça, ainda assim caímos na mesma armadilha.
Tem até uma entrevista que chocou o mundo, quando o ex-lutador Mike Tyson revelou que viveu os melhores anos da sua vida quando estava preso. Um homem que construiu o seu próprio paraíso. Dinheiro, fama, mulheres, poder.
E talvez ele tenha vivido exatamente o que os ratos viveram no experimento. Depois de conquistar tudo, sua forma de lidar com a vida se tornou tão artificial, a ponto dele precisar perder tudo pra poder reencontrar a paz, pra poder reencontrar um sentido pra sua vida. O excesso também é capaz de destruir a mente humana.
Somos tão facilmente levados pela busca por prazer, pela vaidade e pelo nosso próprio ego, que acabamos nos rebaixando à inteligência de meros ratos. E talvez sejamos até piores que eles, porque eles, pelo menos, não sabiam o que estavam fazendo. Já nós temos total consciência e, mesmo assim, optamos pelo mesmo caminho.
Fim
Fonte: Vídeo "Não é à toa que ninguém fala desse experimento..." in https://youtu.be/R7mB2tOloto?list=LL | Canal: WAR MAN
(Transcrito por TurboScribe.ai)