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A HISTĂRIA DOS SONHOS DO REI
Essa Ă© bastante conhecida. Alguns de vocĂȘs jĂĄ tiveram a oportunidade de conhecer. Gosto muito de contar essa histĂłria.
Considero uma das mais felizes que se conta dentro do Panchatantra. Que Ă© a histĂłria dos sonhos do rei. Conta-se que havia um soberano que um dia teve um sonho muito enigmĂĄtico.
Ele sonhou que estava sentado na sala do seu trono, no seu trono ricamente adornado, cheio de tapetes. E, de repente, ele vĂȘ na sala do trono, correndo para todo lado, uma raposa. E aquela raposa passava para lĂĄ e para cĂĄ, se escondia dele e aparecia novamente.
E ele fica muito intrigado com isso. O que serĂĄ que significa isso? Uma noite inteira sonhando com uma raposa? Ele manda chamar todos os gurus e advinhos do reino. Cada um vem com uma explicação mais estapafĂșrdica.
Ele diz que nĂŁo Ă© nada disso. Nenhum de vocĂȘs sabe o real significado do seu sonho. Ele, muito angustiado por querer saber o que significava aquilo, manda rodar uma proclama por todo o reino.
Que aquele que soubesse explicar o significado do seu sonho ganharia um saco de moedas de ouro. Bom, e nisso havia naquelas imediaçÔes um lenhador muito pobre. Vivia uma vida muito miseråvel, numa chopana, caindo aos pedaços, sempre passando muita dificuldade.
E quando ele vĂȘ aquele proclama, ele senta num tronco de madeira e começa a pensar consigo mesmo. Puxa, como seria bom se eu soubesse o significado desse sonho do rei? Como isso me ajudaria a ter uma vida mais digna? E nisso, quando ele estava pensando nisso, surge um pĂĄssaro, um belo pĂĄssaro colorido, que pousa perto dele num galho e se dirige a ele, para a surpresa dele. Pergunta, vocĂȘ gostaria de saber o significado desse sonho do rei? Ele, uĂ©, mas vocĂȘ fala? NĂŁo sĂł falo, como sei o significado.
E se nĂłs pudermos entrar num acordo, eu conto para vocĂȘ qual Ă© ele. Ă, mas qual Ă© o significado entĂŁo? Eu conto para vocĂȘ se vocĂȘ se comprometer a dividir comigo essa bolsa de moedas de ouro que vocĂȘ vai ganhar. TĂĄ bom, meia bolsa de moedas de ouro Ă© melhor do que nenhuma bolsa de moedas de ouro.
EntĂŁo vocĂȘ me conta, estamos combinados. Bom, esse sonho significa, raposa correndo de um lado para o outro, significa que a atmosfera do reino estĂĄ coberta de traição, que o ar do reino estĂĄ impregnado de traição. Avisa o rei para que ele se acautele, porque a traição paira no ar.
Que ele tome cuidado para nĂŁo ser traĂdo. E aĂ o lenhador, muito contente, vai lĂĄ e conta essa explicação para o rei. O rei fica satisfeitĂssimo, porque ele jĂĄ estava desconfiado.
à isso mesmo, bate exatamente com a percepção dele. à verdade. Então ele entrega o saco de moedas de ouro ao lenhador, muito contente, e se despede dele.
AĂ o lenhador vai no meio do caminho pensando, sua vida, passarinho, vocĂȘ viu o tamanho do passarinho? Desse tamaninho. Ele Ă© quase do tamanho de uma moeda de ouro. O que ele vai fazer com esse ouro? Para que o passarinho precisa de ouro, me diz? Quem precisa desse ouro sou eu, que vivo uma vida miserĂĄvel, com um saco de ouro, eu faço muito mais do que com meio saco de ouro.
VocĂȘ sabe de uma coisa? Eu nĂŁo vou nem passar naquele lugar que eu combinei com o passarinho. Eu vou embora e vou levar esse saco de ouro todo para mim. E assim ele faz, vai-se embora com seu saco de ouro.
Passa-se algum tempo, o rei tem outro sonho. Ele sonha que estĂĄ sentado novamente na sala do trono. Quando ele olha para cima, ele leva aquele susto.
Pairando no teto do seu castelo, ponte agudo, enorme, havia um punhal pairando no ar, pendente bem sobre a cabeça dele. Ele se assusta com aquilo e acorda sobressaltado. Mais uma vez pergunta às pessoas à sua volta, o que significa o sonho? O que significa? Ninguém sabe dar a explicação razoåvel.
Ele diz, quer saber de uma coisa? Nem roda proclama. Vai direto lĂĄ na casa daquele lenhador. Ele Ă© que Ă© bom, ele sabe decifrar sonhos.
AĂ manda os seus soldados. E o lenhador agora morava em uma casa bem mais confortĂĄvel, tinha melhorado bem de vida, com aquela bolsa de ouro. Quando batem a porta dele, ele abre a porta, aquele bando de soldados, ele jĂĄ assusta.
O rei teve outro sonho. Mas, meu Deus do cĂ©u, e agora? Ele estĂĄ esperando vocĂȘ para decifrar. NĂŁo, eu nĂŁo posso ir.
Olha, a vontade do rei. VocĂȘ estĂĄ dizendo que nĂŁo vai atender Ă vontade do rei? Isso Ă© pena de morte. NĂŁo tem escapatĂłrio.
VocĂȘ atende ou vocĂȘ morre. Ele estĂĄ Ă sua espera. E aĂ ele pensa, e agora? Bom, digam pro rei que eu tenho que ter um dia para refletir sobre o sonho.
Porque amanhã eu vou até lå. Bom, estå certo. E aà os soldados se retiram.
O que eu vou fazer? Ele vai desconsolado para a floresta, para a região onde tinha encontrado o passarinho e senta naquele tronco e começa a se lamentar. Daqui a pouco vem o påssaro. Ele diz, meu querido e bom påssaro, a maior das sinceridades.
E o pĂĄssaro? O que houve? O rei teve outro sonho? Foi, teve outro sonho. VocĂȘ me desculpa. Eu sei que nĂŁo fui honesto com vocĂȘ.
Bom, estĂĄ certo. Se eu te contar esse sonho agora, vocĂȘ vai me dividir essa recompensa? Porque agora eram duas bolsas de ouro. VocĂȘ vai dividir comigo? Pode deixar, pode ficar tranquilo, que agora eu vou dividir.
Bom, esse punhal significa violĂȘncia. Esse sonho representa que a atmosfera do rei no ar estĂĄ impregnada de violĂȘncia. Diz para o rei que ele se acautele, porque a violĂȘncia se cerca por todo lado.
AĂ o lenhador, mais do que contente, corre lĂĄ no palĂĄcio e fala isso para o rei. O rei fica mais feliz ainda, porque agora estĂĄ um risco de vida contra ele. E ele fica super contente e entrega as duas bolsas de ouro para o lenhador.
O lenhador vai voltando com aquelas duas bolsas de ouro, aĂ ele se irrita e diz, esse passarinho estĂĄ se aproveitando de mim. Que absurdo esse passarinho, ele estĂĄ me fazendo de bobo. Eu que venho aqui, eu que falo com o rei, eu que carrego ouro, ele nĂŁo faz nada.
Ele fica me usando para lucrar as minhas custas. Eu vou acabar com a raça desse passarinho de uma vez por todas. Passarinho abusado, abusando, me usando.
AĂ ele vai para o ponto onde tinha marcado se encontrar com o pĂĄssaro, pega uma pedra e esconde nas costas. Quando o pĂĄssaro chega, que pousa, ele se aproveita desse momento e arremessa a pedra no pĂĄssaro. SĂł que o pĂĄssaro Ă© muito esperto, mais que ele, levanta a voa rapidamente e sĂł passa de raspĂŁo a pedra.
E o pĂĄssaro se vai. E ele vai muito contente com as suas bolsas de ouro para casa. SĂł que aconteceu o quĂȘ? Adivinhem? O rei teve outro sonho.
Claro, nĂŁo podia ser diferente. Dessa vez, mais uma vez, ele estava na sala do trono, sentado, confortavelmente, refestelado no seu trono. Quando ele olha, um bando de cordeirinhos branquinhos entrando por dentro da sala do trono, correndo para todo lado, e pulando, e para lĂĄ e para cĂĄ.
Ele olha aquilo. E agora? O que é isso? Quando ele desperta, ele diz que não quer ouvir opinião de ninguém. Vai direto na casa do fulano.
à perda de tempo. Ninguém entende nada de sonho nesse reino, só fulano. Vai buscar ele.
Quando batem na porta da casa do leador, ele abre a porta e vĂȘ aqueles soldados e diz agora eu estou morto. Agora nĂŁo vai ter jeito. Eu nĂŁo vou convencer esse passarinho a me ajudar de jeito nenhum.
AĂ ele fica meio desconsolado, sem saber o que fazer. Repete a mesma coisa. Pede aos guardas que lhe deem um dia.
O que ele vai fazer? NĂŁo Ă© questĂŁo de vida ou de morte. Vamos para a floresta falar com esse passarinho. Quem sabe ele tem misericĂłrdia de mim.
Ele se senta no tronco e começa a choramingar e a emprecar contra o destino. Daqui a pouco vem o påssaro. O que aconteceu? O rei teve outro sonho? Teve.
Eu estou envergonhado com vocĂȘ pelo que eu fiz. Agora minha vida estĂĄ em jogo. Eu queria saber se vocĂȘ me perdoa.
O pĂĄssaro diz, vocĂȘ vai dividir a recompensa comigo agora? Vou, pode ter certeza. Agora estou falando sĂ©rio. Agora vou dividir a recompensa com vocĂȘ.
TĂĄ bom. VocĂȘ vai lĂĄ e diz ao rei que esses cordeirinhos que estĂŁo correndo para lĂĄ e para cĂĄ no seu sonho representam a pureza. Que agora a atmosfera do rei nĂŁo estĂĄ impregnada de pureza.
E que, portanto, ele pode ficar muito tranquilo, ele não corre risco. Que agora tudo estå muito puro, ele estå em segurança. Aà o lenhador corre lå e conta para o rei.
O rei fica muito mais contente, porque, alĂ©m de tudo, agora a notĂcia Ă© boa. Fica muito mais contente. DĂĄ trĂȘs bolsos de ouro para o lenhador.
Ele fica contentĂssimo. E o lenhador vai-se embora. SĂł que agora ele estĂĄ sinceramente arrependido.
No meio do caminho ele fica pensando, como eu fui desonesto com esse pĂĄssaro. Ele me deu tudo o que eu tenho. E eu o traĂ, eu o enganei.
Olha sĂł o que eu fiz. Puxa vida, que absurdo. Como eu estou envergonhado de mim mesmo.
AĂ ele vai ao ponto de encontro com o pĂĄssaro. Chega lĂĄ, coloca os sacos de ouro. Como tinha sido prometido, o pĂĄssaro vem.
Ele diz, olha, me desculpe. Eu queria que vocĂȘ honestamente me desculpasse. EstĂĄ aqui o que eu te devo.
Ainda vou te trazer mais aquilo que eu fiquei te devendo das outras duas vezes. VocĂȘ me perdoa, porque realmente eu te fiz um papel lamentĂĄvel. AĂ o pĂĄssaro vira para ele e fala, nĂŁo, vocĂȘ nĂŁo tem que me pedir desculpas.
Eu nunca esperei que vocĂȘ fizesse algo diferente daquilo que vocĂȘ fez. VocĂȘ Ă© fruto da atmosfera do reino. No primeiro momento, o ar do reino estava impregnado de traição.
O que vocĂȘ fez? VocĂȘ me traiu. NĂŁo poderia ter feito outra coisa. Da segunda vez, a atmosfera do reino estava impregnada de violĂȘncia.
VocĂȘ, que Ă© fruto dessa atmosfera, foi violento comigo. NĂŁo poderia ter sido diferente. Agora que hĂĄ pureza no ar, vocĂȘ Ă© puro.
Poucos homens, na humanidade, sĂŁo capazes de ser fiĂ©is a si mesmos, independente da atmosfera Ă sua volta. E eu nunca esperei que vocĂȘ fosse um desses. Portanto, vĂĄ embora e seja feliz, apesar de todo o ouro que vocĂȘ tem.
Eu não necessito de ouro. Essa história, que prescinde até de explicaçÔes, porque ela diz tudo, fala exatamente dessa ideia da individualidade, que nós tanto trabalhamos dentro do curso de Filosofia. O homem que é produto de si mesmo, e não do meio.
Que não capta e executa inconscientemente um comando, daquilo que chamamos de inconsciente coletivo. Que não é um executor dessa programação massificada do que todos são, do que todos fazem. Aquele que é capaz de ser fiel a si mesmo.
Como diz o pĂĄssaro, sĂŁo muito raros, que sĂŁo fiĂ©is aos seus princĂpios, aos seus valores, independente do que a atmosfera do reino manda. Como sĂŁo raros esses homens. Esse conto mostra como sĂŁo preciosos, mais preciosos do que qualquer bolso de ouro.
Infelizmente, muito difĂceis de se encontrar. Esse Ă© um conto que trata do assunto da individualidade. Ă importante imaginarmos se nĂłs mesmos estamos acima da atmosfera do reino.
Se somos capazes de ser fiéis a nós mesmos, independente daquilo que a massa, que o meio comanda, independente daquilo que a moda impÔe, independente daquilo que a expectativa geral coloca para nós. Essa é a ideia da individualidade.
Fim
Fonte: vĂdeo "A HistĂłria dos Sonhos do Rei | A Sabedoria FilosĂłfica Indiana"
https://youtu.be/J_PYWZb7Rig
Canal NOVA ACRĂPOLE BRASIL
(Transcrito por TurboScribe.ai)