📺️(601)_ESSA DESCONHECIDA ÍNTIMA [Saúde] (por Revista NOVA)
(Quantas vezes você se sentou na frente de um espelho e, com a ajuda de uma luz forte, examinou seus órgãos genitais? A maioria das mulheres não consegue nem se imaginar nessa situação "ridícula". Mas conhecer essa parte do seu corpo pode ser fundamental para sua saúde... e seu prazer. -- Equipe da Crivo Editorial )
Fonte: Revista NOVA | EDITORA ABRIL | Av. Otaviano Alves de Lima, 4400 | CEP 02909, Caixa Postal 2372, SP.
Uma entre quatro mulheres sofre de algum problema vaginal. Mas a grande maioria das 90% que vão aos consultórios médicos se queixando de de corrimento não tem nada de anormal. As que não vão podem ter e não saber. Toda essa confusão acontece porque poucas de nós temos verdadeira intimidade com nossas "partes íntimas". O fato de elas ficarem escondidas não é desculpa -- mesmo porque vários problemas podem ser detectados por sintomas externos ou por mudanças de aparência fáceis de perceber. Só que para isso é preciso saber distinguir o que é normal do que não é.
PARTES ÍNTIMAS... MAS NEM TANTO
Este pequeno mundo desconhecido, do qual a vagina faz parte, começa no monte de Vênus. Recoberto de pêlos, é formado pelo osso pubiano e por uma camada de tecido gorduroso. Logo abaixo dele, existem duas pregas de pele, os grandes lábios, que protegem a entrada da vagina contra atritos. Escondidas por essas dobras, há outras menores e mais finas, os pequenos lábios. Tanto os grandes como os pequenos lábios se modificam quando a mulher se excita. Além de dobrar ou triplicar de tamanho -- pela grande quantidade de sangue que recebem --, também mudam de cor.
Os grandes lábios normalmente são mais escuros e sua cor depende da tonalidade da pele. Varia de um rosa suave, passando para um vermelho vivo até chegar à cor de vinho. Além de aumentar de tamanho com o orgasmo (voltando ao normal minutos depois), existem outras situações em que essas áreas também variam de cor. Na gravidez, por exemplo, com o aumento da irrigação sanguínea, a coloração fica bem mais intensa. Semanas após o parto, os grandes e pequenos lábios ainda podem apresentar uma coloração azulada ou violeta.
Embora tenham sensibilidade sexual (os pequenos lábios são bem mais sensíveis), ela não se compara à do clitóris. Esta pequena saliência de carne, meio escondida entre os lábios, é a zona erógena mais sensível da mulher. Seu tamanho e sua forma são diferentes em cada uma de nós. Existem os grandes e salientes, pequenos e escondidos, porém todos normais. Como tem inúmeras terminações nervosas e fibras musculares, o clitóris reage independente da nossa vontade: cresce mesmo que não seja tocado basta um estímulo visual, por exemplo.
Justamente por ser delicado, muitas vezes um parceiro inábil pode irritar o clitóris, se houver uma fricção muito forte. Essa irritação crônica acaba provocando ardor durante a relação, mas o uso de um creme antiinflamatório à base de estrógeno (hormônio feminino) resolve esse problema.
Abaixo do clitóris encontra-se a uretra, que não é exatamente um órgão sexual, mas a abertura por onde sai a urina. E em volta da vagina e do ânus existe um feixe de músculos finos e elásticos que podem ser contraídos voluntariamente. Esta região é chamada de períneo. Se tentar prender a urina, por exemplo, sentirá que a entrada da uretra, da vagina e do ânus se fecham. Eles formam uma espécie de assoalho que sustenta os órgãos da pélvis (bexiga e útero). Além disso, desempenham importante papel na hora do ato sexual, pela contração que a mulher pode fazer, aumentando o prazer.
Para manter a tonicidade e a firmeza do períneo, existe um exercício simples: contraia e relaxe esses músculos várias vezes.
Todo esse conjunto que você pode ver e examinar sozinha é chamado de vulva. A partir daí começa o interior da vagina, a parte "escondida" -- mas nem por isso impossível de explorar.
Logo na entrada, em suas paredes laterais, existem as duas glândulas de Bartholin, que produzem a secreção que lubrifica a vagina na hora da penetração. Você não pode vê-las, mas pode perceber quando e se têm problemas.
A produção da secreção equivale à ereção do pênis e indica que a mulher já está excitada e pronta para o ato sexual. Se sentir medo e não se libertar durante as carícias, vai haver uma "secura" nas paredes da vagina, o que torna a penetração dolorosa, por falta de lubrificação. Muitas vezes, porém, a dor e a secura acontecem por causa de cistos ou abscessos nas glândulas, provocados por bactérias ou pela própria secreção que cristaliza, impedindo que a mucosidade saia.
Então, a dor é intensa, o local incha (torna-se impossível fazer sexo e, em casos mais sérios, até andar) e é necessário um tratamento com antibióticos específicos, ou mesmo uma cirurgia para desobstruir (ou remover) as glândulas.
Mas a secreção que costuma nos dar mais pistas falsas quando não a conhecemos bem é a produzida pelas glândulas do colo do útero. Sua função: manter as paredes da vagina sempre úmidas. Suas características: ser incolor e sem cheiro. Nosso problema: confundi-la com corrimentos.
A secreção vaginal normal é transparente, viscosa, às vezes semelhante à clara de ovo e sem cheiro. Existem nela microrganismos produtores de uma substância ácida que evita o crescimento de outras bactérias e fungos, e impede que cheguem às trompas e ao útero. Todo mês, porém, essa proteção é interrompida durante a menstruação. Isso acontece porque o fluxo sanguíneo altera a acidez, e é nesse período que podem começar as infecções que levam a um processo inflamatório.
Você não precisa se preocupar se a secreção aumentar de volume e ficar espessa uns dias antes da menstruação, durante a ovulação ou na gravidez. É normal, conseqüência da ação dos hormônios. Mas fique alerta se notar que a secreção muda de cor ou tem um cheiro desagradável. Aí, sim, pode ser sintoma de que está ocorrendo algum problema com seu aparelho genital.
COMO RECONHECER OS SINAIS DE VAGINITE
O corrimento -- secreção vaginal anormal -- tem aspectos diferentes, dependendo do microrganismo que causa a infecção conhecida como vaginite.
A mais comum é a candidíase ou monilíase, provocada por um fungo (Candida albicans ou Momilia albicans). Esse microrganismo vive normalmente em nosso corpo sem se manifestar. Só começa a se reproduzir desordenadamente aproveitando uma queda de resistência do organismo.
Existem ainda outros fatores que ajudam o aparecimento da candidíase. A pílula anticoncepcional, por exemplo, altera a acidez da vagina e com isso pode aparecer uma condição favorável à doença. Mulheres que comem muito doce, massas (amido em geral) e bebem muita cerveja também são mais suscetíveis a esse tipo de vaginite. Outro fator é o uso de antibióticos, que destroem as bactérias normais da vagina, deixando-a desprotegida.
Na candidíase, o corrimento é esbranquiçado, semelhante à nata de leite e, às vezes, de aspecto esfarelado porém sem cheiro. Podem aparecer coceira intensa, inchaço e dor na micção. Se houver relação sexual enquanto a mulher estiver com esse tipo de vaginite, o corrimento só vai irritar mais ainda a vagina. Além disso, o esperma estimula o crescimento dos fungos da monilíase.
Já o ato sexual em si é responsável pela transmissão de algumas vaginites. Uma delas, a tricomoníase, causada pelo parasita Trichomona vaginalis. Em alguns casos raros, pode ser transmitida também pelo uso de objetos contaminados, como toalhas de banho ou vasos sanitários. O corrimento é amarelo-esverdeado, pouco viscoso, de cheiro fétido, e pode vir acompanhado de dor na relação e ao urinar e coceira intensa.
Outra vaginite bastante freqüente que costuma ser transmitida sexualmente é a clamídia, causada por bactérias (Chlamydia trachomatis, Escherichia coli). Os sintomas aparecem entre 10 e 20 dias depois do contágio. Além de provocar uma secreção amarela, aparecem também dor no abdômen e ao urinar, e ardor na uretra.
As infecções, de um modo geral, se não forem bem tratadas, podem se transformar em doenças crônicas graves e, às vezes, até impossíveis de curar. Se os microrganismos atingirem as trompas, por exemplo, podem deixar pequenas irregularidades cicatrizes bloqueando-as, causando infertilidade ou uma gravidez tubária.
Além das infecções, muitas mulheres têm vaginite provocada por hipersensibilidade (alergia) a certos produtos químicos presentes nos cremes, geléias, óvulos e sprays anticoncepcionais. Normalmente, esses anticoncepcionais químicos, assim como os mecânicos -- diafragmas e camisinhas, feitos de látex --, não costumam provocar alergias. Mas, no caso de não se achar nenhum agente infeccioso para a vaginite, o uso desses produtos deve ser levado em consideração.
VAGINISMO: UM PROBLEMA ESPECIAL
Metade das mulheres que vão ao médico queixando-se de dores na relação sexual tem vaginites. O problema da outra metade, porém, é de origem emocional, especialmente o vaginismo --contração involuntária dos músculos internos e externos da vagina, que torna a penetração extremamente dolorosa e, muitas vezes, impossível.
O vaginismo é a forma inconsciente que algumas mulheres encontram para se defender do ato sexual, dizem os especialistas. Existem várias causas que podem levar a procurar essa "defesa", como uma educação rígida, carregada de preconceitos contra o sexo; desajuste sexual com um parceiro inábil; ou dificuldade de chegar ao orgasmo por um ou outro fator.
Mesmo quando o problema está ligado a causas físicas -- infecções crônicas, hímen rígido ou desproporção de tamanho dos órgãos genitais --, o vaginismo parece ser sempre uma reação involuntária à dor.
CUIDADOS QUE EVITAM PROBLEMAS MAIS SÉRIOS
■ Ir ao ginecologista pelo menos uma vez por ano, mesmo que você seja virgem ou não tenha vida sexual ativa.
■ Ao primeiro sinal de corrimento, seja de que tipo for, procurar um médico.
■ Não tentar se automedicar. Lembre-se de que uma infecção malcurada pode causar até infertilidade.
■ Se a infecção já apareceu mais de uma vez, é possível que seu parceiro sexual também tenha de ser tratado.
■ Usar calcinhas de algodão puro. O náilon e a lycra dificultam a circulação de ar, aumentam a temperatura na região, causam transpiração e umidade. Com isso, criam um meio propício para o desenvolvimento de bactérias. Pelo mesmo motivo, não use calças muito justas.
■ Evitar desodorantes íntimos, para não causar alergias. Para a higiene, água e sabonete neutro são suficientes.
■ Evite umidade na vagina, trocando sempre o maiô molhado.
■ Ao ir ao banheiro, limpar-se sempre da frente para trás, para evitar que as bactérias que normalmente vivem no intestino passem para a vagina, causando infecções até na uretra.
■ Quando menstruada, trocar o absorvente externo de quatro em quatro horas para não criar um meio favorável para as bactérias. Pelo mesmo motivo, não fique mais de quatro horas com um absorvente interno nem durma com ele.
■ O uso de duchas vaginais depois da relação sexual é desaconselhável. Como método anticoncepcional é muito falho. Além disso, seu uso freqüente pode irritar a mucosa da vagina e alterar a acidez, desequilibrando a flora normal. E ainda, se houver alguma infecção, pode levar os microrganismos para útero e trompas.
■ Evitar manter relação sexual durante o tratamento das infecções vaginais. Se o fizer, peça a seu companheiro para usar preservativo.
Fim