🔉️(813)_A PSICANÁLISE E AS FERIDAS EMOCIONAIS ANTIGAS [Comportamento] (por Rosana Castro)

 



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A PSICANÁLISE E AS FERIDAS EMOCIONAIS ANTIGAS

(por Rosana Castro)


Você já ficou chateada com algo que pras outras pessoas parecia bobagem? Já sentiu o coração acelerar, o rosto esquentar, só porque alguém discordou de você ou falou algo que nem foi tão duro assim? E depois ficou pensando nisso por horas ou até por dias, se perguntando, por que isso me atinge tanto? Por que dói desse jeito? Hoje eu quero te mostrar o que a psicanálise revela sobre essa dor. E como muitas vezes ela não tem nada a ver com o que disseram agora, mas com algo muito mais antigo. Olá, eu me chamo Rosana Castro, sou psicanalista e hoje a gente vai entender juntas por que você se sente muitas vezes tão atacada pelos outros.


O que isso tem a ver com feridas do passado, que talvez você nem se dê conta que ainda carrega e, principalmente, como começar a olhar pra isso de um jeito diferente. Porque viver assim, sempre na defensiva, sempre machucada, não precisa ser o seu destino. Vamos começar olhando para o que acontece no seu dia a dia.


Imagine que você esteja no trabalho. Termina uma apresentação que você fez com todo o cuidado. E aí vem alguém e diz com o maior jeito, ficou ótimo, só acho que dá pra ajustar aquele ponto pra ficar mais claro.


Na hora, o estômago aperta. Você sorri por fora, mas por dentro se sente diminuída. Fica o resto do dia incomodada, arrasada, quase como se tivessem te humilhado na frente de todo mundo.


Ou então, em casa, seu parceiro comenta. Você poderia ter me avisado antes de marcar isso. E pronto, parece que ele não valoriza nada do que você faz, que está te acusando de ser desorganizada.


Às vezes nem é o que foi dito, é o tom, o olhar, o silêncio. E você pensa, será que estou ficando sensível demais? Por que me sinto tão ofendida por coisas tão pequenas? A psicanálise tem muito a dizer sobre isso. Primeiro, porque o que te fere hoje quase nunca é só de hoje.


Freud falava que a gente carrega dentro da gente marcas emocionais profundas, muitas vezes inconscientes. E que a forma como reagimos agora é o modo como o nosso ego consegue lidar com as frustrações, as novas e as antigas. Dependendo do quanto ele esteja fortalecido para lidar com essas frustrações, vamos ter as diferentes maneiras de lidar com situações em que nos sentimos ofendidas.


Isso porque nosso ego também nos protege armando o que na psicanálise chamamos de mecanismos de defesa. Um deles é a projeção, quando a gente não consegue lidar com uma dor interna e acaba colocando essa dor no outro. Então, se você já carrega lá dentro o sentimento de não sou bom o bastante, qualquer comentário neutro pode parecer uma confirmação disso.


Quer ver um exemplo bem simples de como a projeção atua? Imagine uma colega de trabalho, Ana, que se orgulha de ser muito organizada, mas na verdade vive esquecendo prazos e acumulando tarefas. Um dia, durante uma reunião, outra colega, Carla, comenta, precisamos ter cuidado para não atrasar esse projeto por causa de alguma desorganização. Ana, imediatamente, sente-se profundamente ofendida.


Sai da reunião ressentida, comentando pra todos que Carla é uma pessoa crítica, insuportável, desorganizada, que vive apontando os defeitos dos outros. Nesse exemplo, Ana não consegue lidar com a própria falha, sua dificuldade em ser organizada e cumprir prazos. Pra não encarar essa parte de si mesma, projeta esse aspecto indesejado na outra.


Atribui à Carla a característica de desorganizada ou ainda de acusadora, deslocando pra fora o que não aceita em si. Assim, a fala genérica de Carla se torna ofensiva porque toca justamente naquilo que Ana não suporta considerar em si mesma. Esse mecanismo de defesa, projeção, desloca o conteúdo interno para o outro, para Carla, protegendo o ego de Ana da angústia, mas também distorcendo sua percepção da realidade.


Algo parecido já aconteceu com você? Esse tipo de situação não é tão simples de reconhecer, mas é muito, muito comum. Outro ponto a ser considerado em relação à nossa fragilidade diante do que entendemos como ofensas é a chamada ferida narcísica. Todos nós temos uma imagem idealizada de quem somos ou de quem gostaríamos de ser.


Quando alguém toca num ponto que desvia dessa imagem, mesmo sem querer, é como se rasgasse um tecido muito delicado. Por isso, uma simples discordância parece um ataque direto ao seu valor. Yelane Clay falava que, nesses momentos, o nosso eu idealizado fica ameaçado e a gente reage tentando proteger essa imagem a qualquer custo.


Surgem muitas situações, o que ela chamou de ansiedade persecutória, ou seja, uma sensação desconfortável não apenas de não ser querida, mas principalmente de estar em perigo por causa de alguém que tem intenção de prejudicar você. E o Inicot complementa se, na infância, você não teve segurança suficiente para errar e ser acolhida, se foi muito criticada ou, ao contrário, super protegida, você não aprendeu a lidar com frustrações sem desmoronar. Cresce uma casca tão fina que qualquer toque dói.


E sabe o que é mais interessante ou doloroso nisso tudo? É que, muitas vezes, quem reage hoje não é o adulto que você acredita ser, é a criança ferida que ainda mora aí dentro, aquela menininha que precisava provar o tempo todo que merecia amor, que cresceu pisando em ovos, morrendo de medo de errar e ser rejeitada, que se acostumou a achar que qualquer discordância é um recado, você não é boa o bastante. Então hoje, quando alguém faz um comentário inocente, é essa criança que vem pra frente do palco e ela reage do único jeito que aprendeu, com medo, com raiva ou se encolhendo para não se machucar mais. Por isso, às vezes, você se sente até meio ridícula depois pensando, mas por que eu levei isso tão a sério? Não foi você adulta que levou, foi aquela parte sua que ainda está esperando por um cuidado que talvez nunca tenha recebido do jeito esperado.


Então, se você se reconheceu em tudo isso, respira fundo, porque não, isso não é frescura, não é sinal de fraqueza, muito menos motivo pra vergonha, isso é sinal de feridas que ainda estão abertas, feridas que você talvez tenha aprendido a ignorar, mas que continuam aí, esperando para serem olhadas. O problema é que enquanto essas dores não são elaboradas, elas ficam te controlando, fazem você interpretar críticas neutras como ataques, fazem você reagir com exagero, se fechar ou até sabotar relações que poderiam ser boas. É como viver com a pele em carne viva, qualquer esbarrão, mesmo sem intenção, sangra.


Por isso, entender de onde vem essa sensibilidade não é só curiosidade, é um passo essencial pra você parar de sofrer tanto. Tá, mas o que fazer com tudo isso? Como é que você começa a não se sentir tão ferida por tudo? Primeiro, perceba o movimento. Quando algo te machucar, antes de reagir, tente perguntar pra si mesma.


Isso aqui é mesmo sobre o que o outro disse ou é sobre algo meu que já doía antes? Esse passo parece simples, mas já cria um espaço, um pequeno intervalo entre o que te feriu e a forma como você vai reagir. Depois, lembre que muitas vezes não é o outro te diminuindo, é você mesma, repetindo dentro de si críticas antigas, talvez até vozes do passado que não tem mais lugar no presente. E por fim, o mais importante, considere procurar ajuda.


A psicanálise pode te ajudar a voltar lá onde tudo começou, pra curar essa criança ferida, fortalecer seu ego e fazer você se sentir menos ameaçada por pequenas coisas. Não é sobre virar blindada e nunca mais se afetar, é sobre aprender a ser forte o suficiente pra não desmoronar por dentro cada vez que o mundo não confirmar quem você gostaria de ser. Então, se esse vídeo falou com alguma parte sua, se te fez lembrar de situações em que você reagiu assim ou de dores que ainda incomodam, eu te convido a deixar um comentário aqui embaixo.


Me conta, em que momentos você mais se sente ferida? Às vezes só escrever já traz um certo alívio. E se você conhece alguém que vive sempre na defensiva, compartilhe esse vídeo, pode ser o começo de uma conversa importante e até de uma cura. 



Fim

Fonte: vídeo "Por Que Você Se Ofende Tão Fácil? A Psicanálise Explica"  in  https://youtu.be/AaE1ymFza2k  |  Canal Rosana Castro  |  Duração: 8'51

(Transcrito por TurboScribe.ai)