🔉️(814)_A GRANDE MENTIRA DA RECICLAGEM (por Canal 'Olá, Ciência!')

 



Clique p/OUVIR 👉️🔉️

A GRANDE MENTIRA DA RECICLAGEM 

(por Canal 'Olá, Ciência!')


No vídeo de hoje eu vou te contar por que a reciclagem do plástico é na prática uma grande farsa. Seja sincero comigo, você procura aquelas lixeiras amarelas, azuis, verdes quando vai jogar lixo fora? Já te olharam torto porque você jogou uma garrafinha de plástico no lixo comum? Será que essas medidas simples fazem diferença? O buraco é bem mais embaixo e hoje eu vou te mostrar por que a reciclagem não é nem de longe a solução mágica que te venderam. E vou te mostrar também o que realmente pode fazer diferença diante da crise global do plástico.

Esses também eram os questionamentos do Lucrécio, que nunca foi o cara mais ecológico do mundo. Mas um dia, um simples potinho de iogurte na empresa deu uma polêmica tão grande que fez ele ir atrás dos fatos. Lucrécio trabalha num escritório com uma colega, que é o espírito da reciclagem em pessoa.

Toda vez que ele joga alguma coisa fora, ela fiscaliza. Essa tampinha é reciclável, tá? Tem que lavar antes, viu? Ah não, esse plástico tem resíduo de comida, não pode jogar fora aí. Quem aí se identifica? No início, Lucrécio ria por dentro, mas um dia ele perdeu a paciência.

Ele tava com pressa pra uma reunião. Jogou um potinho de iogurte direto no lixo, sem lavar, e ouviu. Você sujou o lixo com comida, agora não dá pra reciclar.

Foi o limite pra ele. Não porque ele se sentia culpado, mas porque no fundo, ele se perguntava se a reciclagem realmente fazia sentido. Poxa, separar o plástico, lavar a marmita e o potinho de iogurte gastando água, comprar lixeira colorida, tá, deve estar ajudando, mas resolve? Ou é só pra aliviar a consciência? Foi aí que ele decidiu investigar.

E o que o Lucrécio descobriu vai nos mostrar que o problema da reciclagem do plástico é um pouco mais complexo do que parece. Em 1990, mais ou menos quando eu nasci, o consumo global de plástico era de 150 milhões de toneladas por ano. Em 2020, esse número já passa dos 460 milhões, com previsão de atingir 1 bilhão de toneladas em 2050.

É muito plástico. E isso não é à toa. O plástico está em tudo.

Empalagens de comida, painel do carro, frasco de remédio, escova de dente, celular, brinquedo, roupa, caneta, corpo, cadeira. Isso porque ele é barato, leve, pode ser moldado em várias formas. Um sinônimo de praticidade.

Só que todo esse sucesso tem um preço. Infelizmente, uma das maiores vantagens do plástico é também o seu principal defeito. Ele foi projetado para durar.

Ao contrário do papel, madeira ou resto de alimentos, que se decompõem naturalmente, o plástico não apodrece e não é degradado facilmente por bactérias ou fungos. Ele resiste. Uma sacola plástica usada por 10 minutos pode permanecer por mais de 400 anos no ambiente.

Lucrécio sempre achou que isso era papinho de ambientalista, mas ficou chocado quando descobriu as ilhas de plástico. Simplesmente uma concentração gigantesca de plástico que se acumulou em uma região do oceano. A mais famosa Grande Mancha de Lixo do Pacífico já tem mais que o dobro do tamanho da França.

E o problema não é só o lixo. Apesar de ser visível, a maior parte dessas ilhas de plástico são formadas por partículas microscópicas que acabam virando comida de microorganismos e peixes. Ou seja, como se não bastassem as garrafas e sacolas boiando pelo oceano, o plástico está entrando na base da cadeia alimentar marinha.

E chegando até nós pelo prato. Mas não é só assim que ele chega até você. Quando o plástico do ambiente finalmente começa a se quebrar, ele não desaparece por completo.

Os pedaços grandes se fragmentam em partículas cada vez menores, até se tornarem microscópicas e 70 vezes mais finas que um fio de cabelo. Os microplásticos, como são chamados esses fragmentos, são pequenos o suficiente para escapar de sistemas de filtragem de água. Eles atravessam as membranas das células e se infiltram no organismo.

Estudos já encontraram microplástico no sangue humano, no leite materno, no cérebro, no intestino e até no coração. O efeito deles na saúde ainda está sendo estudado pela medicina. Mas a preocupação é um consenso.

Não precisa ser cientista. Sabendo dessas informações, faz sentido se preocupar com bilhões de sacolas, brinquedos, garrafas, peças de carro e potinhos de iogurte, durando séculos por aí. E à primeira vista, a reciclagem parece uma solução simples, pensou Lucrécio.

Mas essa não é toda a história. A verdade é que a reciclagem é apenas uma ilusão. A gente cresce achando que separar o lixo resolve tudo, que o símbolo de reciclagem na embalagem é garantia de vida nova para aquele produto.

Mas a verdade é que a reciclagem foi uma ideia plantada como solução pela indústria do petróleo. E pior, sabendo que não funcionaria. Pode não parecer, mas qualquer pecinha de plástico veio um dia do petróleo.

Depois de extraído e refinado, o petróleo passa por um processo de aquecimento e é quebrado em moléculas menores, que podem ser transformadas em longas cadeias que formam os plásticos. PET é o plástico que veio do etileno. PVC vem do cloreto de vinila.

Polipropileno vem do propeno. Todos compostos extraídos do petróleo. Na prática, mais de 95% dos plásticos são frutos da indústria petroquímica.

Agora pensa comigo, você já é uma das indústrias que mais poluem no mundo, obtendo lucro de combustíveis fósseis. Você vê uma pressão do mundo para a redução desse produto. O plástico seria uma alternativa de mercado.

Só tem um problema, ele vira lixo e se acumula por séculos. Como impedir que a opinião pública perceba que você está criando mais uma crise ambiental tentando ter lucro? Reciclagem. Na década de 80, enquanto vários estados dos Estados Unidos começavam a proibir sacolas e embalagens de plástico, as empresas petroquímicas se uniram, fundaram a Plastics Recycling Foundation e criaram o símbolo de três setas em triângulo.

Uma jogada de marketing para fingir compromisso ambiental, já que segundo relatórios internos que hoje são públicos, essas empresas sabiam que a reciclagem do plástico não seria viável, nem tecnologicamente, nem economicamente. Como assim, reciclagem é inviável? Para começo de conversa, menos de 10% de todo o plástico produzido no mundo foi reciclado até hoje. E não é nem culpa do Lucrécio que não separa o lixo.

A reciclagem não é algo simples. Depois que o plástico é descartado, ele precisa ser coletado, separado por tipo, limpo, triturado e só então é derretido para virar matéria-prima de novo. Qualquer erro nesse processo, sujeira, mistura de materiais ou descarte de materiais de baixa qualidade pode fazer com que tudo volte para o lixo comum, mesmo você lavando o potinho de iogurte.

E ó, a maioria dos plásticos do dia-a-dia nem conseguem ser reciclados. Sabe aquelas embalagens metalizadas de salgadinho, de biscoito, ou até o plástico que vem em embalagens com a marca do produto impressa? Pois é, esses plásticos flexíveis, como são chamados, representam cerca de 40% de tudo o que é fabricado, mas são bem difíceis de reciclar porque misturam materiais diferentes ali no meio, alumínio, tinta, fita adesiva, materiais que não se separam facilmente do plástico. Outros chegam sujos, com restos de alimento, o que contamina o material inteiro.

Mesmo quando o plástico consegue ser reciclado, isso só acontece uma ou duas vezes, diferente do vidro ou do alumínio, que podem ser reciclados infinitamente. Essa diferença acontece porque o processo de reciclagem tritura, quebra as cadeias do plástico e elas nunca mais voltam a ser tão resistentes quanto eram. O resultado é um plástico reciclado mais fraco que o original, que não pode ser usado em tudo, e que no fim acaba descartado do mesmo jeito.

E pessoal, reciclar não é inofensivo. Consome energia, gasta água e pode gerar resíduos tóxicos, substâncias que estavam nos plásticos e que agora são despejadas no ambiente. Sem contar que separar, lavar, transportar e processar esse material custa caro.

Muitas vezes mais caro, inclusive, do que produzir plástico novo, direto do petróleo. A culpa não é sua, Lucrécio. Mesmo que todas as pessoas do planeta separassem o lixo de forma exemplar, a estrutura atual simplesmente não daria conta da quantidade de plástico produzida.

Nem toda cidade tem coleta seletiva, nem todo plástico é reciclável e mesmo que é reciclável, nem sempre vale o esforço. Diante dos fatos, Lucrécio teve um sentimento místico. Aliviado por não ser o grande vilão, mas preocupado.

Qual a solução? A reciclagem pode até ser importante em muitos casos, mas ela não é a solução absoluta. Veja, a produção do plástico polui. Ele vira lixo que se acumula nos oceanos e no corpo.

A reciclagem gera compostos tóxicos no ambiente e não dá conta de tudo. Diante disso, pessoal, a única solução viável é cortar o problema pela raiz. Reduzir drasticamente a produção de plástico.

Isso não significa parar de usar tudo da noite pro dia, mas repensar o modelo atual, investir em soluções que substituam o plástico em áreas onde ele pode ser evitado. E não precisamos ir muito longe. Eu sempre estou divulgando pesquisas brasileiras pra vocês e aqui vai um exemplo.

Pesquisadoras brasileiras do Mato Grosso criaram um material feito com amido de mandioca e colágeno de peixe e que tem as mesmas propriedades do plástico. Mas sem o prejuízo ao meio ambiente. Quem sabe não vir uma substituição às embalagens plásticas no futuro.

Outras inovações mundo afora vão na linha de materiais biodegradáveis, bactérias que consomem plástico ou simplesmente o incentivo à produção de materiais reutilizáveis, como vidro ou ácido inox. O problema é que, enquanto pequenas iniciativas como essas tentam avançar, grandes empresas seguem empurrando a narrativa de que reciclar é suficiente. É por isso que o mundo inteiro está se mobilizando neste momento em torno de um esforço inédito.

O Tratado Global do Plástico. Esse é o maior acordo ambiental internacional desde o Acordo de Paris, galera. Criado pela ONU, ele tem um objetivo claro.

Criar regras obrigatórias para que os países enfrentem o problema do plástico de verdade. Não é um compromisso simbólico. É um tratado com força legal que pretende mudar a forma como o mundo lida com o plástico, desde o momento em que ele é produzido até o descarte.

São 175 países negociando hoje, juntos, e a previsão é que o tratado entre em vigor já em 2025. A missão é reduzir a produção do plástico, eliminar produtos desnecessários e embalagens exageradas e exigir que os produtos sejam criados com menos impacto ambiental. Além disso, o tratado também quer eliminar compostos tóxicos e criar fundos para ajudar os países que mais sofrem com o lixo plástico.

Só que esse tratado enfrenta resistência. Países com grandes indústrias petroquímicas, como Estados Unidos e Arábia Saudita, tentam barrar medidas que limitem a produção do plástico. É importante que não apenas se estimule a redução, mas que o tratado imponha limites para a produção.

A boa notícia? Ainda dá tempo de influenciar o resultado. E a má? O tratado ainda é pouco conhecido. A última fase das negociações está prevista para acontecer entre os dias 5 e 14 de agosto de 2025, em Genebra.

E enquanto especialistas e ativistas pedem regras mais firmes, a indústria do petróleo e do plástico segue tentando sabotar o acordo, promovendo falsas soluções como a reciclagem química e tentando manter tudo como está. É aqui que eu entro e você pode me ajudar. Quanto mais gente souber o que está em jogo, mais difícil fica aceitar um tratado fraco, vazio ou moldado por quem lucra com a poluição.

A crise do plástico, galera, é real e urgente, mas ela tem solução. Uma solução que só vai vir se a gente parar de acreditar que lavar potinho de iogurte é o máximo que dá pra fazer. A mudança que o mundo precisa começa com menos plástico sendo produzido, menos plástico circulando e, principalmente, menos plástico entrando no nosso corpo, no planeta e na nossa história.

E se você quer iniciar a sua mudança trocando a sua garrafinha de água, assiste esse vídeo aqui, em que eu comparo plástico, inox ou garrafas de vidro, qual é a melhor garrafinha pra sua saúde. Um grande abraço, não crie uma ilha de plástico em casa e siga o Alacim RCC se inscrevendo no canal. Tchau!


Fim

Fonte: vídeo "A FARSA DA RECICLAGEM DE PLÁSTICO" in  https://youtu.be/_jw73d_nPxg  |  Canal 'Olá, Ciência!'  |  Duração: 10'58