(196)_12-Introdução de "Um Parênteses na Eternidade" [Literatura espiritual] (por Joel S. Goldsmith)

Texto extraído do blog:

Introdução de "Um Parênteses na Eternidade"
Joel S. Goldsmith

Em algum lugar na consciência existe um lugar inexplorado, um lugar ainda não revelado pela religião, filosofia ou ciência. Eu sei que esse lugar existe, porque ele se coloca continuamente às vistas do meu conhecimento. Eu sei que, quando ele se revelar, ele mudará a natureza da humanidade: não haverá mais guerras, e o cordeiro se deitará com o leão. Eu sei o seu nome, porque foi revelado como Meu reino e Minha graça. Cristo Jesus falou desse Reino, mas nem a palavra falada nem os manuscritos até agora descobertos revelaram seu completo significado.

Nos meus momentos de maior elevação, eu tenho vivido e experienciado esse Reino, e por vezes sua atmosfera permanece impregnada em mim por dias, mas depois, de novo ele me escapa. Às vezes nas curas eu tenho testemunhado sua ação, mas captei apenas alguns de seus lampejos. Ele me mostrou a mente humana da humanidade e suas operações, e como os homens usam a mente tanto com maus propósitos quanto com bons.

Esse reino espiritual, esse mundo interior, é tão real quanto o mundo que nós vemos, ouvimos, tocamos ou cheiramos - talvez até mais real. Aquilo de que nós nos apercebemos através dos sentidos, eventualmente muda e desaparece, mas esse mundo interior, essas glórias espirituais que nos são reveladas, essas luzes espirituais com quem aprendemos a permanecer no tabernáculo - essas nunca desaparecem.

Esse é o mundo que o Mestre Cristo Jesus revelou, um Reino que existe bem aqui onde estamos, mas se recebermos o Espírito de Deus dentro de nós. Ele já está estabelecido aqui na terra, apenas esperando nosso reconhecimento e realização.

Encontrar esse Reino não nos tirará de maneira alguma deste mundo. Encontrar esse Reino nos deixará nele, mas não dele. Desfrutaremos de todas as coisas necessárias para enriquecer a vida, não nos tornaremos ascéticos, mas não mais desejaremos coisas ou ansiaremos por elas, e muito embora as riquezas da vida possam ser parte de nossa experiência, intimamente estaremos tão livres delas que todo o nosso ser interior será vivido em Deus e de Deus.

O mundo místico é um mundo real. É um mundo de pessoas e um mundo de coisas formadas da consciência iluminada ou esclarecida. Mas, como nos tornamos iluminados ou esclarecidos? Como encontrar esse mundo místico? O que é misticismo? Misticismo é "a experiência da união mística ou comunhão direta com a realidade última de que nos falam os místicos". É "a teoria do conhecimento místico; a doutrina ou crença que o conhecimento direto de Deus, da verdade espiritual, da realidade última, e de assuntos correlatos, é alcançada através da intuição imediata, insight, ou iluminação, e de uma forma que difere da nossa percepção ordinária dos sentidos".

A mensagem mística de todos os tempos é a mesma. A linguagem e o modo de abordagem podem ser diferentes, mas a mensagem e o objetivo - alcançar a união consciente com Deus - nunca muda. Ninguém pode se tornar um buscador de Deus em sua humanidade, mas, quando Deus toca uma pessoa em algum grau de despertar, ela é levada até alguma forma de ensinamento espiritual. Ela pode permanecer neste caminho até o final de sua busca, ou pode ir de ensinamento em ensinamento até finalmente encontrar aquele que vai de encontro à sua necessidade insatisfeita e lhe trazer a realização de Deus. Embora revelada em diferentes linguagens, diferentes termos e diferentes formas, o desdobramento interior leva sem erro ao único objetivo.

Nada se equipara à fascinação e aventura da vida mística. É uma vida de descobertas, descobertas que estão sempre em nossa frente, nunca atrás. Podemos ter tido uma experiência ontem, que nos elevou até o topo da montanha, mas nós não podemos viver na "pérola" de ontem, ou no maná de ontem, porque a experiência de ontem, independentemente do quanto foi extraordinária ou o quanto tenha excitado a nossa alma, é apenas uma preparação para uma ainda maior que está á nossa frente. Existe sempre o desafio das coisas intangíveis esperando nossa descoberta aqui e agora.

O reino de Deus não tem limites ou bordas, e toda a verdade que já foi dada ao mundo nos últimos milhares de anos mal encheria um dedal, se comparada ao que ainda há para ser descoberto. Ninguém até hoje já experimentou um milionésimo do que já foi revelado.

Pode alguém em algum tempo revelar a última palavra da verdade espiritual? Pode alguém em algum tempo penetrar nas profundezas de Deus? Pode alguém em algum tempo descobrir a totalidade de Deus? É verdade que os místicos de todas as eras nos deram lampejos da verdade, e suas palavras são carregadas de convicção porque por trás das palavras está a experiência em si mesma. Mas, quanto do que nós já lemos sobre as revelações espirituais nós efetivamente experimentamos? Quanto disso ainda permanece entre as capas de um livro? Quanto disso nós efetivamente testemunhamos? Quanta verdade nos chegou como um desdobramento interior com a força e o poder renovadores da revelação? Todo aspirante no caminho espiritual deveria estar constantemente alerta para alguma revelação da verdade. Se ele se satisfaz, entretanto, em meramente lidar com as palavras sem procurar extrair os significados mais ricos e profundos, dos quais as palavras são apenas símbolos, ele não está sendo alimentado pelo seu interior, mas pelas páginas de um livro. Tinta preta não tem bom sabor, tampouco há qualquer sustentação a ser encontrada numa página impressa, e aquelas pessoas que estão vivendo na palavra impressa estarão tão famintas quanto aquelas que sofrem de má nutrição. A substância sustentadora a ser encontrada nas palavras, impressas ou faladas, reside na verdade que pode ser introjetada pela consciência.

As verdades que são reveladas na literatura espiritual são sementes plantadas na consciência, e se essas sementes são plantadas numa consciência ativa e fértil, elas brotam e frutificam; mas se são levadas para a consciência adormecida - a inconsciência ou consciência morta, a consciência que está vivendo da forma, do ritual ou dos pensamentos de ontem - essas não podem se abrir, brotar e amadurecer.

Cada palavra da verdade que ouvimos ou lemos deveria ser levada para a nossa consciência como se fosse uma semente, e lá ser nutrida e alimentada. Ela deveria ser fertilizada com a meditação e pela ponderação e pela prática, até que num momento de quietude e silêncio, a semente possa se abrir, enraizar-se, e começar a frutificar.

O que nós lemos, então, não pode se tornar estéril. Há sempre a esperança de que o próximo parágrafo possa conter "a pérola de alto preço" para nós. O próximo parágrafo, ou um que venhamos a ler amanhã, pode ser a "pérola" para o nosso vizinho ou outra pessoa qualquer. Não existe nada que seja uma única "pérola". A vida espiritual é um colar que passaria em volta de todo o globo - tantas são as suas pérolas. Cada declaração da verdade é uma pérola. Cada princípio é uma pérola, cada experiência, quase que cada meditação, é uma pérola, basta que busquemos por ela profundamente dentro de nossas consciências.

Cada grão da verdade deveria ser usado como uma trilha ou uma ponte que nos leva a um despertar profundo, deixando que mais e mais verdade apareça na medida em que viajamos mais alto e para mais longe. Se não estivermos alertas, entretanto, e não mantivermos os ouvidos e a mente abertos, bastante abertos para ver o que vem adiante, seria o mesmo que tentar cruzar o oceano num barco enquanto adormecidos sobre o leme.

Literatura espiritual e princípios espirituais são certamente trilhas ou pontes sobre os quais vocês e eu podemos viajar, mas para onde nos levam essas trilhas ou pontes? Sempre para a nossa consciência! Esse é o único lugar para o qual um ensinamento verdadeiramente espiritual pode nos levar - à nossa própria consciência.

"Deus não respeita as pessoas", e o que quer que seja possível para um, é possível para todos, mas apenas para aqueles que buscam. Busquem e encontrem; busquem e encontrem; mas busquem no interior de suas consciências. Suas consciências e minha consciência são tão infinitas quanto a consciência de qualquer vidente espiritual, e qualquer que tenha sido o grau de desdobramento que qualquer alma iluminada tenha tido, nós podemos ter em igual grau de profundidade. Nós podemos não expressar essa Infinitude em sua totalidade, mas, mesmo assim essa é a verdade a nosso respeito.

Entretanto, independentemente do quanto a verdade se revela a nós, ou de quantas experiências de natureza espiritual nós venhamos a ter, assim que elas tenham servido ao seu propósito, nós deixamos que deslizem para fora de nossa memória e ansiamos pela próxima, porque a próxima será maior. Se escrevermos uma centena de livros sobre a verdade, ou curarmos umas mil pessoas, nunca devemos acreditar que chegamos ao fim de nossa consciência, porque nossa consciência tem uma profundidade além daquela do oceano, e uma circunferência maior do que todo o nosso universo e de todos os universos ainda desconhecidos e não descobertos. Não há limite para a profundidade de nosso ser e para a riqueza de nossa consciência, mas nós devemos mergulhar fundo em nós mesmos para trazer à tona a revelação da natureza de Deus, e eventualmente a natureza de nosso próprio ser. Aí então, nós descobriremos que Deus é, na verdade, nosso próprio ser e nossa própria vida.

Buscar, encontrar e experienciar esse brilho interior, essa realização interior da presença, essa comunicação interior com Deus, e então realizar que a cada vez que se repete, isso se torna uma experiência mais profunda e rica, uma experiência mais proveitosa, de modo que não pode nunca ter nada nela de final, aborrecida, monótona ou maçante - aqui reside a real aventura da vida espiritual.

Deus é infinito; a verdade é infinita. Cabe a nós nos elevarmos para dentro dessa Infinitude, explorar novas avenidas da verdade, abrirmos novas áreas de nossa consciência, porque toda essa verdade é nossa consciência, nossa própria consciência! Em um nível de consciência nós podemos colocar em evidência a literatura, arte, invenções ou descobertas. Num nível mais profundo de consciência nós podemos colocar em evidência experiências espirituais até - e incluindo - a última, que é conhecida como casamento, ou união com Deus. Tudo depende do que estamos buscando.

E o que é que estamos buscando? É apenas uma cura de alguma natureza? É apenas mais conforto no mundo humano? É apenas um relacionamento mais feliz, ou um pouco mais de dinheiro? É direito gozar de saúde; é direito ter abundância de suprimento; é direito ter relacionamentos humanos satisfatórios. E todas essas coisas inevitavelmente se seguem, mas se elas sozinhas são o objetivo de nossa busca, nós estamos desvalorizando a verdade. O objetivo em si mesmo é descobrir a essência da sabedoria espiritual explorar cada canto do reino espiritual, cada nível de profundidade, cada nível de altitude. Nisso reside a aventura espiritual.

Quem sabe que grande verdade será revelada para nós? Quem sabe que coisas maravilhosas estarão na nossa frente daqui a uma hora? Quem sabe que revelações surpreendentes da verdade podem nos chegar? É maravilhoso quando elas chegam, é maravilhoso quando elas acontecem, mas elas não podem vir se nós permitimos que alguma mensagem particular se cristalize em nós, ou se formos para a cama esta noite pensando que conhecemos a verdade, ou acordarmos amanhã de manhã acreditando ter atingido o máximo da sabedoria espiritual. Cada dia da semana deve ser um dia novo. Com cada dia deve vir sempre um anseio interior, não a lembrança de alguma coisa que foi revelada no dia anterior, mas um reconhecimento de nosso vazio e um apelo: "Pai, Pai! Venha, venha, revela Tua mensagem! Dá-me uma visão hoje; deixa-me conhecer-Te da forma correta; deixa-me penetrar profundamente em Tua consciência".

Existem maiores verdades encobertas em nossa consciência do que qualquer daquelas que já foram reveladas. Assim como a verdade se revelou através de um humilde sapateiro como Jacob Boehme, assim também uma verdade que abale o mundo pode ser revelada através de vocês ou de mim, e se isso não acontecer, pode ser que nós não a tenhamos desejado tão ardentemente quanto o fizeram os grandes místicos do mundo, ou porque nosso interesse tenha estado mais na superfície da vida do que em suas profundezas.

Por vezes, estudantes que tenham estado estudando por apenas um ano, me escrevem sobre sua insatisfação, desapontamento, e mesmo desencorajamento a respeito de sua falta de revelações e progresso. Frequentemente minha resposta é "Em apenas um ano; apenas um ano? Existem outros tantos milhares de milhões de anos à sua frente, e ninguém nunca vai alcançar a transição daquele 'homem cuja respiração está em suas narinas' para aquele 'homem que tem seu ser no Cristo meramente por estudar ou meditar por um ano'." Se o Reino de Deus fosse tão facilmente alcançável, todos o alcançariam. Mas quão poucos já o fizeram! Não se enganem, este é o mais difícil dos caminhos; esta é a vida mais difícil que há. É muito mais fácil para uma pessoa se tornar um Croesus, com uma saúde fabulosa, ou atingir grande fama, do que ter sucesso em alcançar a vida espiritual. É muito mais fácil realizar alguma coisa no mundo humano do que no espiritual, porque no mundo espiritual vocês e eu somos chamados a "morrer" antes que possamos alcançar o que estamos buscando.

A vida espiritual não se ganha deixando de fumar, ou de beber ou de comer carne, ou por estudar por uns poucos anos, ou por ir à igreja ou ter aulas. Ah, se fosse tão fácil! O Reino é alcançado por um processo de "morrer diariamente". Todos os dias da semana, como parte de nosso envolvimento na vida do Espírito, nós devemos vigiar se algum vestígio de humanidade nos deixa ou é deixado de fora. Cada problema deve ser visto como uma oportunidade para elevarmo-nos, qualquer que seja a situação, e se isso soa muito difícil, é melhor nem começar. Mas, se existe um impulso em nós, que nos compele a prosseguir, então devemos ser pacientes e persistir até que o consigamos. Essa conquista é possível a todo aquele que parte nessa aventura espiritual, e é possível sem preço - exceto o grande preço. Há um preço: "Vendam tudo o que possuem." Este é o preço, e é pago na moeda de nossa devoção. Este é o preço que o Mestre demandou de seus seguidores quando lhes disse, "Aquele que ama pai e mãe mais do que a mim não é digno de mim... Vendam tudo o que possuem... Sigam-me e eu os farei pescadores de homens." Disso podemos apreender o quão difícil é essa conquista espiritual, e porque nosso progresso é tão lento, e não vamos reclamar. Nós vamos estar satisfeitos, realizando que se os seguidores de Jesus em seus dias tiveram que dar esses passos, assim teremos nós.

Mas, embora possamos mergulhar fundo nas profundezas até o limite de nossa capacidade e falharmos em atingir o objetivo, a busca ainda assim vale à pena, mesmo se tivermos que passar anos e anos acreditando que não estamos fazendo nenhum progresso. A verdade é que com cada esforço, com cada expedição, com cada busca, com cada meditação, nós estamos nos movendo lentamente e inexoravelmente em direção ao objetivo de toda a vida - a união com Deus.

Problemas e circunstâncias afetam as vidas de diferentes pessoas de diferentes maneiras. Eles podem levantar ou quebrar uma pessoa, ou podem deixá-la no ponto e que a encontraram. Não há nada de trágico em se estar quebrado, ou ser um fracasso, não mesmo. Uma pessoa que fracassa, essa pessoa tentou, normalmente tentou bastante, e há uma satisfação nisso, e há uma esperança nisso, porque se a pessoa continua a tentar, ela nunca vai ser derrubada, e muito embora possa estar quebrada, ela se levantará novamente. A tragédia, se existe uma, ou a desgraça, está em querer continuar, dia após dia, a acordar pela manhã e ir para a cama à noite, e estar em nenhum lugar amanhã que ela já não tenha estado ontem.

Pensem nas oportunidades ilimitadas que existem em qualquer grande metrópole, de se adquirir conhecimento e apreciação da grande arte, literatura, música, religião e ciências naturais do mundo, e então pensem nas milhares de pessoas sem objetivo andando pelas ruas dessas cidades sem nem sequer se darem conta dessas oportunidades, mais frequentemente do que não, nem mesmo se incomodando com isso. Isso é uma tragédia!

Não é a mesma coisa, ainda um pouco mais, com qualquer mensagem ou ensinamento verdadeiramente espiritual? Não existem pessoas no mundo que estão expostas de tempos em tempos, de alguma maneira à verdade, e ainda assim não lhe dão importância? Isso é triste, porque encontrar uma mensagem espiritual poderia e deveria ser o começo de uma vida de aventuras. É verdade que nem sempre acontece desta maneira. Ela poderia nos deixar no mesmo lugar onde nos encontrou. Isso não pode nos quebrar - isso ela não poderia nunca fazer - mas pode elevar-nos, e poderia abrir a vida à alegria e entusiasmo espirituais, e a buscar e encontrar. Isso deveria nos estimular a girar e girar e começar tudo de novo para ver quão longe podemos ir nesse Caminho.

Não existe um Deus lá fora no espaço. O Deus que existe está encondido dentro de nós, esperando que cada um de nós o descubra por si mesmo. Nós não temos que ir a nenhum lugar no tempo e no espaço. A jornada espiritual, a maior das aventuras, não acontece no tempo e no espaço. É uma jornada na consciência - e essa jornada ninguém pode fazer por nós.

Fim



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