🔉️(795)_O USO EXCESSIVO DO CELULAR PODE AFETAR O BEM-ESTAR [SaĂșde] (por BBC News)


 


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O que acontece no seu cĂ©rebro quando vocĂȘ navega no celular e trĂȘs dicas para evitar que isso se torne compulsivo. 

Reportagem de Santiago Vanegas, da BBC News Mundo, publicada pela BBC News Brasil em 14 de maio de 2024. Lida por Silvia Salek.


Um vĂ­deo de um cachorrinho, uma foto de uma amiga na praia, um meme, uma notĂ­cia do outro lado do mundo. Os conteĂșdos vĂŁo se intercalando. Se vocĂȘ gosta, vocĂȘ vĂȘ, se vocĂȘ nĂŁo gosta, vocĂȘ passa.


O hĂĄbito de deslizar o dedo pela tela do celular faz parte do dia de muita gente, Ă s vezes por alguns segundos enquanto estamos no elevador, Ă s vezes por horas antes de dormir. Mas o que acontece no nosso cĂ©rebro quando rolamos a tela do celular e por que isso Ă© tĂŁo viciante e como podemos evitar que isso se torne um problema? Eilish Duke, professora de psicologia na Universidade Leeds Beckett, no Reino Unido, diz que a primeira coisa que precisamos entender Ă© que o impulso de pegar o celular e acionar a tela que desencadeia a rolagem Ă© automĂĄtico. NĂŁo temos consciĂȘncia disso porque construĂ­mos esse hĂĄbito ao longo do tempo.


É como fechar a porta ao sair de casa, por exemplo. Em uma pesquisa que fizemos hĂĄ alguns anos, descobrimos que os participantes achavam que verificavam seus telefones a cada 18 minutos. Mas quando usamos gravadores de tela, percebemos que, na verdade, eles verificavam o celular com muito mais frequĂȘncia.


A partir do momento que ativamos a tela, certas funçÔes no nosso cérebro e o design sofisticado dos aplicativos do nosso celular entram em cena em perfeita harmonia. Segundo a professora Ariane Ling, do Departamento de Psiquiatria da New York University Langone Health, nos Estados Unidos, o håbito da rolagem de tela pode ser explicado pelo comportamento natural dos seres humanos, mas é agravado por fatores ambientais. Ela explica que o ser humano estå programado para querer saber o que estå acontecendo.


É por isso que lemos notĂ­cias ou, por exemplo, paramos para olhar quando hĂĄ um acidente na estrada. É algo que faz parte do desenvolvimento evolutivo que nos permitiu sobreviver como espĂ©cie. E nosso celular foi projetado para nos alimentar continuamente com informaçÔes que supostamente nos interessam, ou seja, Ă© um casamento perfeito.


Nossos cérebros buscam naturalmente ser recompensados. Temos certos centros neurais que reagem ao prazer, ao sexo, às drogas, a ganhar dinheiro e esperam que isso se repita vårias vezes. Estão buscando aquela novidade, aquela próxima dose de prazer, seja lå o que for que possamos realmente desfrutar, explica Eilish Duke.


Isso Ă© conhecido como sistema ou circuito de recompensa do cĂ©rebro e Ă© exatamente o mesmo mecanismo pelo qual uma pessoa se torna dependente de uma substĂąncia como o ĂĄlcool. Para muitos de nĂłs, essa novidade vem na forma do nosso telefone. As redes sociais, em particular, sempre tĂȘm algo novo e prazeroso a oferecer.


Uma foto, um vĂ­deo, uma notĂ­cia, uma mensagem. Mas hĂĄ outra parte do cĂ©rebro que luta contra esses impulsos de busca por prazer e recompensa imediata, o cĂłrtex prĂ©-frontal. É a regiĂŁo do cĂ©rebro responsĂĄvel por fazer vocĂȘ tomar decisĂ”es menos impulsivas e mais equilibradas.


Aquela que faz vocĂȘ, por exemplo, parar de enrolar a tela, levantar do sofĂĄ e decidir arrumar a casa ou praticar exercĂ­cio fĂ­sico. Mas essas duas funçÔes cerebrais nem sempre estĂŁo perfeitamente equilibradas. O que acontece com muita gente Ă© que a parte lĂłgica do nosso cĂ©rebro, que controla nossos impulsos, nĂŁo estĂĄ fazendo sua parte, ou pelo menos nĂŁo tĂŁo bem quanto poderia, e estĂĄ sobrecarregada pela busca por prazer, afirma Eilish Duke.


E no caso dos jovens, o problema é ainda maior. O que vemos nos adolescentes é que o circuito de recompensa estå em alerta måximo, pronto para funcionar o tempo todo, mas o córtex pré-frontal só termina de se desenvolver aos 23 ou 24 anos, por isso ele não consegue realmente controlar certos impulsos, como usar o telefone, explica a professora de psicologia. E o que acontece quando rolamos a tela do celular é que entramos em um estado de fluxo.


O conceito de fluxo, em psicologia, se refere a um estado mental em que a dificuldade da tarefa que uma pessoa estĂĄ realizando se ajusta muito bem ao nĂ­vel de atenção e habilidade que ela tem para oferecer naquele determinado momento. Aplicativos como o TikTok, em que o algoritmo muda constantemente e oferece coisas novas, especialmente direcionadas a vocĂȘ, alimentam diretamente este estado de fluxo. Eles absorvem toda a sua atenção, e vocĂȘ entra em uma fase de distorção do tempo em que nĂŁo percebe que duas horas passaram, e vocĂȘ estĂĄ ali sentado com a mĂŁo dormente e perdeu todo esse tempo vendo vĂ­deos de cachorrinhos, acrescenta Ailis Duke.


Ariane Ling explica, usando uma metĂĄfora, como o nosso cĂ©rebro começa a adquirir o hĂĄbito de rolar a tela do celular excessivamente. Se vocĂȘ pensar em um caminho que jĂĄ foi percorrido muitas vezes, esse caminho se torna muito mais claro, e continuamos caminhando por ele, Ă© mais fĂĄcil. Se vocĂȘ rolar a tela constantemente, esta se torna a experiĂȘncia padrĂŁo, e assim fica muito difĂ­cil focar sua atenção e seu tempo em outra coisa completa.


A dependĂȘncia do celular nĂŁo consta no manual de diagnĂłstico psiquiĂĄtrico, portanto nĂŁo existem critĂ©rios estabelecidos para diferenciar o uso saudĂĄvel do uso problemĂĄtico e, consequentemente, da dependĂȘncia. Nos baseamos nos critĂ©rios clĂĄssicos de diagnĂłstico de dependĂȘncias, como de que existe um impulso incontrolĂĄvel ou que o comportamento estĂĄ tendo um impacto funcional negativo no resto da vida da pessoa, por exemplo, ela estĂĄ deixando de fazer coisas que precisa fazer no dia a dia ou apresenta sintomas de abstinĂȘncia, explica Ailis Duke. É importante, portanto, prestar atenção e tentar rever nossos prĂłprios hĂĄbitos.


Se vocĂȘ mesmo tentou parar e tentou de verdade, mas nĂŁo conseguiu, eu recomendaria procurar ajuda ou uma intervenção mais significativa, sugere Ariane Ling. E aqui a BBC resume para vocĂȘ trĂȘs dicas de como evitar a rolagem de tela compulsiva. Primeira dica, passar um tempo longe da tela.


Ter certos rituais que afastem vocĂȘ do celular Ă© sempre muito Ăștil, diz Ariane Ling. Segundo ela, muitas pesquisas mostram como um exercĂ­cio tĂŁo simples quanto caminhar sem o celular pode ter um grande impacto. Sempre que vocĂȘ puder deixar o telefone em casa e dar um tempo, seja para dar uma caminhada ou para ir Ă  academia, Ă© excelente.


E nĂŁo Ă© sĂł porque impede vocĂȘ de usar o celular nesse perĂ­odo, mas tambĂ©m porque ajuda vocĂȘ a prestar atenção ao que estĂĄ ao seu redor, exercitar outras funçÔes do cĂ©rebro e ter consciĂȘncia de como vocĂȘ se sente ao deixar o celular para trĂĄs. Criar o hĂĄbito ou regra de nĂŁo usar o celular Ă  mesa quando estiver com a famĂ­lia ou amigos tambĂ©m Ă© o ideal, uma vez que assim nĂŁo depende apenas de vocĂȘ. Seja outra pessoa pode te lembrar que nĂŁo Ă© hora de usar o celular e ter um reforço visual dessa regra, como uma cesta em que todos possam colocar o celular antes da refeição, pode tornĂĄ-la ainda mais eficaz.


Em geral, qualquer esforço consciente para diferenciar na sua rotina o tempo com o celular do tempo sem o celular pode ajudar a evitar a rolagem de tela sem sentido por mero hĂĄbito. Se vocĂȘ puder reservar perĂ­odos de tempo em que nĂŁo vai usar o telefone, mas sim se concentrar em uma tarefa ou apenas estar presente com os amigos Ă© uma boa ideia, aconselha Ailis Duke. Outra coisa que Ă s vezes eu faço Ă© colocar meu telefone em preto e branco, o que torna menos atraente olhar para a tela, compartilha a Rian Ling.


Segunda dica, fazer pequenas mudanças na rotina para realizar tarefas que vocĂȘ faz no celular, porĂ©m sem usar o dispositivo tambĂ©m pode ajudar. Em um dos estudos que fizemos hĂĄ alguns anos, vimos uma grande diferença entre as pessoas que usavam relĂłgios normais e aquelas que usavam o celular para ver a hora, conta Ailis Duke. Sem querer, as pessoas que usavam o celular para ver a hora acabavam presas na rolagem de tela.


AlĂ©m disso, por exemplo, se vocĂȘ conseguir ler o que quer que esteja lendo sem estar online Ă© maravilhoso, acrescenta a professora de psicologia. Encorajo as pessoas a serem curiosas e buscarem truques para reduzir o tempo de uso do celular e passar mais tempo no mundo tridimensional. Somos tĂĄteis, devemos nos envolver com as coisas no mundo real, completa a Rian Ling.


E a terceira dica, tentar controlar o impulso. Raramente quando sentimos o impulso de entrar em um aplicativo para simplesmente ficar rolando a tela ou quando jå estamos fazendo isso hå horas, paramos para pensar por que estamos fazendo isso ou quanto satisfeitos nós estamos com essa decisão. Tentar estar mais consciente das nossas decisÔes, de como nos sentimos, de como nossa mente funciona nesses momentos é uma intervenção poderosa que podemos fazer.


O impulso de pegar o telefone Ă© como ter um desejo, vocĂȘ percebe que seu corpo começa a desejar aquilo, Ă© como se seu cĂ©rebro dissesse, oi, faz um tempo que nĂŁo consumimos dopamina, vamos consumir um pouco e esse desejo pode crescer como uma onda, explica a Rian Ling. Mas vocĂȘ pode resistir a esse impulso, certo? VocĂȘ pode dizer, ok, Ă© isso que estou percebendo, quero muito olhar meu celular, abrir aquela notificação, mas nĂŁo vou fazer isso. É necessĂĄrio muita prĂĄtica e responsabilidade, mas acho que quem realmente pratica algo do tipo com diligĂȘncia nota benefĂ­cios de longo prazo, como ser capaz de manter a atenção, se sentir melhor, ter experiĂȘncias fora da tela que tornam sua vida mais rica e significativa, conclui a Rian Ling.


VocĂȘ ouviu a reportagem o que acontece no seu cĂ©rebro quando vocĂȘ navega no celular e 3 dicas para evitar que isso se torne compulsivo. Publicada pela BBC News Brasil em 14 de maio de 2024.


Fim

Fonte: vĂ­deo "O que acontece no seu cĂ©rebro quando vocĂȘ navega no celular"  in  https://youtu.be/WdlQuRRyFlU  -  Canal BBCNews Brasil

( Transcrito por TurboScribe.ai )